sábado, 20 de outubro de 2012

Dia 20: Relações de amizade e relações amorosas

Penso que talvez em razão dos compromissos que assumi este ano, a maioria dos quais sistematizei já neste blogue, não me sinto nem sozinha, nem triste. Neste último ano, tenho aliás adiado muitos encontros, jantares, idas ao cinema, lanches, passeios... com amiga/os do coração e que sei que me fazem sempre tão bem. Mas, simplesmente, entre o meu filho, a casa (que inclui a administração  do condomínio), o trabalho e esta minha opção por uma vida minimalista e hiperconsciente, o tempo não me sobra.

Sei que tenho de fazer um esforço para estar com os meus amigos. Devo-lhes isso, a eles e a mim, um tempo bom de conversar sobre tudo e sobre nada: os nossos sonhos, os nossos projetos, o nosso papel enquanto profissionais e cidadãos privilegiados que somos! Mas também sobre a nossa imagem e o nosso look, as receitas de culinária e as fofocas mais recentes, o filme ou o livro que nos emocionaram, o artigo que nos surpreendeu, a anedota que nos fez rir até às lágrimas...


Espaços de luz e de vida.

Estes espaços de tempo devem fazer parte integrante dos nossos compromissos de vida e eu tenho-os descurado muito nos últimos meses. Nos últimos anos mesmo! E não devo continuar a fazê-lo porque estes encontros são extremamente compensadores: abrem espaços de luz num quotidiano demasiado absorvente que, sem darmos conta, pode estar a empobrecer-nos ou a fragilizar-nos. De todas as vezes que abri um lugarzinho destes no meu dia-a-dia demasiado cheio de afazeres, vim de lá sempre mais feliz e mais viva. Em psicoterapia chama-se a isto reforço de energias positivas!

Todas as relações implicam trocas de energia e nas relações de amizade, como nas relações amorosas, podemos e devemos oferecer e dar energia positiva a quem dela necessita, e pedir e receber energia positiva se dela precisarmos. O ideal é quando reforçamos mutuamente as nossas energias positivas, como quando vamos aos tais lugares de luz que temos também de ser nós a construir. O que não podemos é permanecer nem em dádiva, nem em peditório perpétuos...

Hoje compreendo que foi porque passei a maioria da minha vida em modo de dádiva que, algures entre os 40 e os 50 anos, me saturei da  maioria das minhas relações de amizade e... acabei com as relações amorosas! Foi uma espécie de reboot (mas porque será que me deu hoje para a terminologia informática?). Analisada esta situação, agora com mais distância, penso que sou capaz de ter exagerado!

Mas a verdade é que esgotara muitas das minhas amizades. Ao fim de anos e anos em que pouco ou nada recebera em troca, percebi que aquelas pessoas já nada mais tinham que me interessasse! Quanto às relações amorosas, esta é toda uma outra história.


Não é com certeza por acaso que no mundo desenvolvido uma grande parte das mulheres prefere, a partir de determinada altura da vida, viver sozinha na sua casa, mesmo mantendo uma relação de amor! A mim, parece-me uma excelente solução. Isto, caso eu encontrasse alguém que me encantasse, o que também é estatisticamente improvável. Aos 56 anos, tornei-me demasido exigente e seletiva para encontrar um par, um igual, sendo que na realidade há pouquíssimos homens da minha geração que sejam efectivamente interessantes: cuidadores, imaginativos, independentes, leais, comprometidos com o que é verdadeiramente importante na vida e... disponíveis. Todos os outros não me interessam. 

Para mim, viver um conto de fadas de amor só tem sentido quando se é jovem, quando acreditamos em compromissos a dois para toda vida o que, em geral, sucede quando queremos ter filhos e criá-los felizes e bons. Na vida, tudo tem um tempo e um espaço e viver essa aventura do encontro com o(s) outro(s) com o(s) qual(is) alargamos as fronteiras dos nossos próprios limites não é uma exceção. 

Como afirma Ziula Sbroglio em Você quer segurança?, também eu gosto muitíssimo de ver um casal em harmonia. Comove-me sempre. Mas não acredito que seja para mim, tanto mais quanto me sinto bem comigo e com o mundo.
AUM (OM, OHM), símbolo do som (também interior) da luz e da vida.

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