sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Viajar em sistema de boleias partilhadas: Blablacar

Na semana passada fiz uma pequena viagem de cinco dias: fui ver os  meus sobrinhos espanhóis de Cádis

A viagem de Lisboa a Cádis só se pode fazer por estrada, na medida em que, por mais estranho que pareça, não há ligações ferroviárias entre Portugal e Espanha, com exceção do Lusitânia Expresso que faz a viagem Lisboa-Madrid e Madrid-Lisboa de noite, toda a noite...

A viagem de avião obriga a ir a Madrid e aí a fazer uma ligação a Sevilha, ou seja, a voltar para trás. São o dobro dos quilómetros, e mais tempo devido à espera que as ligações aéreas obrigam. É também mais cara.

A viagem por estrada é evidentemente cansativa. São cerca de 600 quilómetros ou a conduzir ou de autocarro. Neste último caso, são quase 9H00 porque o autocarro faz todo o sul do Algarve e o termo da viagem é em Sevilha. O que significa que para chegar a Cádis ainda é necessário ou apanhar um outro autocarro ou um comboio noutra ponta da cidade, e este último trajeto pode durar entre 1H00 e 1H30.

Trajeto Lisboa-Cádis por estrada (Google maps).

Assim decidi, desta vez, experimentar o sistema de boleias partilhadas mais conhecido na Europa, o Blablacar. A plataforma é amigável e mostra-nos as diferentes propostas de viagens para o trajeto que pretendemos: dia e hora, nome e idade do condutor, com a respetiva avaliação e comentários efetuados por outros passageiros em anteriores viagens. Podemos pagar online ou diretamente ao próprio condutor, e o preço é praticamente idêntico ao da viagem em autocarro que não é propriamente barata: 80 € ida e volta. A reserva considera-se efetiva a partir do momento em que recebemos um código alfanumérico por sms ou email.


Tendo apenas como experiência esta viagem de ida e volta, na qual acabei até por coincidir com o mesmo condutor, devo dizer que, para mim, valeu a pena.

Em primeiro lugar, neste caso concreto, a viagem de carro é bem mais curta (menos de 6 horas) do que a de autocarro, mesmo tendo ficado em El Puerto de Santa Maria, a meia hora de comboio de Cádis-cidade e só isso é importante. Fizemos uma única paragem para sair e tomar alguma coisa, mas foi suficiente. Depois, conheci pessoas muito diferentes, na maioria jovens, mas não só, já que na viagem Cádis-Lisboa, para além de mim, um dos passageiros era um senhor australiano seguramente mais velho do que eu.

A diversidade dos passageiros com quem se partilha a viagem é indiscutivelmente uma das mais-valias a ter em conta na opção Blablacar. Comigo viajaram dois espanhóis, um francês, uma romena, uma italiana, uma dinamarquesa, uma croata, um australiano e dois brasileiros. O próprio nome desta empresa é elucidativo: os companheiros de viagem conversam muito entre si, quase sempre em inglês, mas também nesta viagem em espanhol. O nosso condutor confessou-me mesmo que, se falava agora muito melhor inglês, o devia ao Blablacar

Cada passageiro é convidado a descrever-se na plataforma, assinalando entre outros itens: se gosta de viajar com música, se não se importa de viajar com cães (o que se for o caso pode implicar um lugar extra pela viagem) e se é uma pessoa de um bla, de dois blas ou de três blas. Claro que no mono-volume em que regressei, não era fácil conversar com todos, mas com os que estão ao nosso lado é o mais natural. O que não quer dizer que seja obrigatório fazê-lo, também é possível dormir, o que eu aliás fiz.

Cabe aqui também uma palavra para José M., o nosso condutor espanhol 5 estrelas. Para além de uma excelente condução, como é normal em alguém que gosta de conduzir e que tem milhares de quilómetros feitos na Europa, em África e no Brasil, é também um jovem muito gentil. Chegados ao destino final, levou-me até à estação de comboios e ajudou-me mesmo a comprar o bilhete para Cádis, sem que eu lhe tivesse pedido nada. 

Por último mas não em último, não podemos esquecer a redução da pegada ecológica que viajar em conjunto significa. Tudo isto tomado em consideração, o Blablacar parece-me uma win-win option, como dizem os americanos, a repetir. Será provavelmente também este facto que explica a atual expansão do Blablacar no mundo:

Expansão do Blablacar a amarelo.


domingo, 10 de janeiro de 2016

Receita para lidar com os Dias-Não

É verdade, sim, não tenho conseguido ainda combater efetivamente os Dias-Não. Isto na prática, porque a teoria conheço-a toda de cor e há muito.

Receita para vencer Dias-Não
  1. Estar alerta para os sinais de que o Dia-Não está a chegar, assim como quem não quer nada connosco que é quase sempre assim que nos chegam...
  2. Evitar a todo o custo reunir sistematicamente todas as razões do mundo que nos assistem para estarmos de rastos, o que é já a primeira aceitação do Dia-Não.
  3. Falarmos com um amigo-mesmo sobre a razão por que nos sentimos em Dia-Não e pedir-lhe que nos diga se temos ou não temos razões objetivas para nos sentirmos assim tão-tão tristes e infelizes.
  4. Focarmo-nos numa atividade intensa que exija a maior parte de toda a nossa atenção: andar a pé durante pelo menos 30 minutos, ver um bom filme, começar e acabar uma tarefa que vimos adiando se possível acompanhada de uma bom «som», fazermos exercícios respiratórios (pranayama) no mínimo durante 10 minutos.
  5. Darmo-nos o direito de nos mimarmos: sair mais cedo do trabalho, ir a um SPA, comer um bolo de chocolate na melhor pastelaria das redondezas...
  6. Distanciarmo-nos fisicamente do quotidiano: fazer uma pequena viagem, ir uns dias para um hotel ou para casa de amigos (com eles ou sem eles lá). 
Estes tópicos podem na verdade resumir-se a um único: não deixarmos de nenhuma forma que o Dia-Não se instale em nós. Se conseguirmos manter o Dia-Não bem à distância, não passará de uma Hora-Não. Ou menos ainda, de uns Momentos-Não.

Porque os problemas que originam os Dias-Não vão sempre existir. Com exceção de alguns casos de doenças graves, os Dias-Não nascem sobretudo de uma interação mais ou menos confusa e negativa entre o nosso mundo exterior e o nosso mundo interior, às vezes vice-versa. 

Assim, para começar, temos de fortalecer o nosso eu interior, porque, em princípio é aquele que dominamos melhor, de todas os modos possíveis: uma tarefa para todos os dias, que nunca acaba, mas que é (e esta é a parte boa) tendencialmente cumulativa. Quanto ao mundo exterior, se temos também de fazer um esforço para o controlar, nunca o poderemos fazer na totalidade e a vida deixava até de ter qualquer graça. Assim, temos de aprender a dar-lhe «a volta». Há muitíssimas maneiras de o fazer, mas é necessário experimentar quais as que funcionam melhor para nós. Encará-las como um desafio pode tornar-se mesmo estimulante. Há quem lhe chame «saber viver».





quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Dias-Não

Por mais que eu tente ajustar e treinar o meu eu presente em função do meu eu de 67-70 anos, não consigo agora continuar a fazê-lo. Porque ando a viver Dias-Não, que não quero esconder nem de mim própria nem aqui, por mais que não suporte sentir-me uma choramingas. Mas o facto é que não sei como dar a «volta» a este problema que me sufoca:

1.  Ter o meu filho doente; 
2.  Não poder fazer o trabalho que gostaria de fazer; 
3.  Estar rodeada de pessoas que estão mal com o trabalho e com os outros;
4.  Não ter forças para ser mais positiva e batalhadora;
5.  Não ter perspetivas futuras de melhorar estes problemas. 

Todos estas «coisas» que agora tanto me afetam trazem ainda consigo consequências que mais agravam o mal-estar em que vivo:

6. Estive três semanas com gripe;  
7. Estou fisicamente exausta e emocionalmente vulnerável;
8. Não consigo manter a minha casa organizada;
9. Não consigo ter a minha contabilidade em dia;
10. Não consigo fazer yoga.

Com tantos anos de terapia e de meditação, era suposto ser exímia no recurso a mecanismos de defesa e a formas de ultrapassar estas dificuldades, tão, mas tão, minhas conhecidas. Mas não! Ainda não aprendi a lidar com os Dias-Não! E não é apenas um de quando em vez, são muitos, demasiados: surgem-me em pares e em bandos, sem avisar, vindos dos mais diversos sítios da vida!