sexta-feira, 31 de julho de 2015

Noite de blue moon

Esta noite o nosso céu oferece-nos uma bleu moon, um fenómeno astrológico relativamente raro que assinala uma segunda lua cheia num mesmo mês, em julho, este ano.

O significado e a história do fenómeno da lua azul são conhecidos e explicados em quase todos os meios de informação, mas penso que, para a maioria das pessoas da minha geração, a memória que mais inconscientemente lhe atribuímos é a da canção blue moon cujo final feliz nos confirma que o impossível (once in a bleu moon) acontece: 


Blue moon, you saw me standing alone

Without a dream in my heart
Without a love of my own

Blue moon, you knew just what i was there for

You heard me saying a prayer for
Someone i really could care for

And then there suddenly appeared before me

The only one my arms will ever hold
I heard somebody whisper, "please adore me"
And when i looked, the moon had turned to gold

Blue moon, now i'm no longer alone

Without a dream in my heart
Without a love of my own


Das múltiplas covers e versões desta canção, registadas de 1934 até hoje, a minha preferida continua a ser esta de Dean Martin.





Feliz noite de blue moon!

terça-feira, 28 de julho de 2015

Uma nova vida?

É verdade, sim. O meu filho começou a melhorar há um mês. Muito lentamente, com horas de dúvida e de desânimo, muitos medos e alguns sustos, choro e alegria. Tanto caminho ainda por andar...

Mas vivemos agora sob uma estrela que é uma esperança e uma fé: uma pequena mudança de medicação produziu resultados visíveis e inequívocos. Por isso vamos agora por aqui, reajustando a medicação, não permitindo (eu) que a descrença e tristeza se instalem, enquanto aguardamos uma consulta superespecializada, que apenas há muito pouco tempo existe em Portugal. Mudámos a nossa dieta alimentar que já não inclui praticamente carne e começámos ambos a fazer exercício.


O principal problema é que eu estou física e psicologicamente exausta. Porque, nestes meses, quase morri por dentro. Nem sei mesmo se uma parte de mim não morreu de facto para sempre. Queria muito acreditar que foi a pior parte de mim...


Trabalhei imenso ao longo de todo o inverno e de toda a primavera, e sempre permanente stress, dado o estado do Pedro e o volume de trabalho que tive de assumir. 


Passei, dou-me agora conta, todos os meus momentos de descanso, sem sair de casa, enrolada numa poltrona a tricotar: dois coletes e uma camisola. Nenhum deles ficou pronto. A camisola, refi-la duas vezes, com agulhas de tamanhos diferentes, e das duas vezes a desmanchei. Está agora em novelos num cesto, com os coletes, ambos por terminar, à espera do regresso do frio do inverno e da minha vontade de acabá-los de vez. Costurei também muito, tudo à mão, porque não me decidi ainda a comprar uma máquina de costura. E, tirando pequenos arranjos, os grandes projetos, como o meu primeiro vestido de malha de lã, também ficaram inacabados... começava um, depois continuava outro, depois tentava acabar um terceiro.


Muitas atividades manuais, todos o sabemos, induzem-nos num continuum mental que nos permite ausentarmo-nos parcialmente do mundo exterior e interior, o que nos permite fluir num limbo, no sentido metafórico que a religião católica lhe atribui: «um lugar fora dos limites do céu, onde se vive de forma esquecida e sem a visão plena da eternidade e privado da visão beatificada de Deus».


Com as melhoras ainda tão recentes do meu filho, comecei a olhar em volta. Para a minha casa, primeiro. Fui a uma livraria expressamente para comprar o livro de que tinha ouvido falar sobre o método konmari, da jovem japonesa Marie Kondo, traduzido para português com o título Arrume a sua casa, arrume a sua vida.





A proposta konmari é uma atualização, ou antes, uma versão moderna da prática japonesa de organização do espaço em que vivemos e consequentemente da nossa vida, descrita por Dominique Loreau em A arte da simplicidade de que eu já aqui falei. 

O que Marie Kondo nos diz de novo é que o critério para nos desfazermos do que está a mais na nossa vida é o facto de não nos trazer alegria (joy). E devemos senti-lo. Propõe-nos também uma forma de dobragem de roupas e tecidos e uma organização na vertical e não na horizontal. Por último, alerta-nos para que desfazermo-nos de toda a tralha que nos traz infelicidade, nos faz descobrir aquilo de que gostamos efetivamente e que é o que deve orientar a nossa vida.


Youtube
Com este espírito, iniciei  um destralhe da minha casa, mais radical do que os anteriores, e que evidentemente se encontra muito longe do fim. Vou muito devagar, mas com determinação e rigor. 

Num destes dias próximos, começo então a olhar para mim. A sério. Numas fotografias que me enviaram na semana passada, mal me reconheci, tal a imagem de abatimento que denotavam. Como se me tivesse tornado numa transparência inexpressiva de mim própria. Estou a pensar inscrever-me no ginásio.