domingo, 30 de dezembro de 2012

Dia 91: 2012 em balanço

Na verdade o ano civil, pelo menos aqui no hemisfério norte, só em parte marca o nosso ritmo de vida. Desde jovem que o considero mais como a comemoração coletiva do aniversário do nosso planeta, embora saiba que se trata mais de um projeto de apenas alguns de nós, humanos. Mais prosaicamente, constitui também o marco do balanço financeiro anual das nossas vidas que o Ministério das Finanças nos solicita... obrigatoriamente. Tudo junto, a passagem de ano civil não é pois uma data de somenos importância nas nossas vidas. 

Contudo, muitas das nossas decisões de vida têm lugar no final das férias grandes do nosso verão, por volta de setembro, um tempo talvez mais apropriado para o fazer: o tempo do calor e do descanso está a terminar, sentimo-nos repousados e temos todo um novo ano de trabalho pela frente. Seja como for, em setembro ou em dezembro, ou ainda em março quando entregamos a declaração do IRS, estas datas levam-nos a realizar balanços anuais e intercalares que considero muito úteis.

Imagem retirada daqui.
Neste ano que passou, tomei resoluções importantes, a principal das quais foi a de apostar na minha especialização profissional direcionada para o desenvolvimento das bibliotecas públicas, mas fazê-lo como parte integrante de uma vida boa, no sentido ético do termo, que quero viver todos os dias, e que este blogue tenta definir. O mais difícil tem sido viver estas decisões com os constrangimentos da minha vida pessoal que em muito ultrapassam a minha vontade e até mesmo a minha força física e anímica. 

Em relação ao primeiro trimestre do meu 1º ano sem compras, devo concluir que me tem sido fácil vivê-lo, e até mesmo esta fase complicada em que vivo tem contribuído positivamente nesse sentido: acabei por simplificar mais ainda o Natal.

No que respeita às prendas, decidi-me por apenas uma por adulto: meias para os homens da família e collans para as manas. Como sempre faço, dei a cada um dos meus sobrinhos dei uma nota de euros, a mais pequena, devidamente enrolada na sua fita vermelha, e às pequenitas livros infantis ilustrados que todos os anos me oferecm. Apenas abri uma exceção para o meu filho que queria um anel. Custou-me cerca de 50 € e expliquei-lhe que tinha também um valor simbólico, o de mudança que ele está tentando levar a cabo com tantas dificuldades. A minha cadelinha foi presenteada com uns arreios para susbstituir a coleira que tinha e que penso que a magoava.

O jantar de Natal foi, este ano, foi feito a meias com uma das minhas irmãs e foi também simplificado: tirando o tradicional bacalhau de que os adultos não abdicam, acabou por ser vegetariano: pasta com molho de tomate, cogumelos cozinhados em alho, azeite e coentros, batatas novas assadas em azeite e alho e esparregado de nabiças e diversos queijos. Os doces ficaram-se pelo Bolo Rei que é comprado e pela mousse de chocolate...

Não digo que não tenha tido algumas tentações consumistas, mas basta-me pensar no destralhamento e na reorganização que tenho vindo a fazer na minha casa para me ser de imediato evidente aquilo que precisaria-gostaria (porque precisar-precisar não preciso mesmo de nada) de ter.

Projetos, uns novos outros para continuar, tanto pessoais com profissionais tenho vários. E é para os realizar que tenho de me fortalecer e de me preparar.
Imagem retirada daqui.

sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Dia 89: Início do inverno

Embora o inverno de 2012 tenha chegado, como sempre, antes do Natal, e pontualmente no dia do seu solstício, às 11h11 do dia 21 de dezembro, a verdade é que desta vez não me dei conta. Talvez porque para mim o inverno já tivesse mesmo chegado antes.

Solstício de Inverno (imagem retirada daqui).


Neste tempo em que fui obrigada a hibernar parcialmente, como os animais e as árvores, o meu filho começou apenas a recuperar da crise, o jantar de Natal foi tranquilo e reconfortante e o sol voltou. Preciso de me recordar sempre que o início do Inverno assinala também o facto de que, em cada dia que passa, nos é oferecido mais tempo de luz.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Dia 80: Chove chuva... chove sem parar...

Pois é, há alturas em que a vida nos exige muito mais do que estamos preparados para dar e para aguentar! Eu bem tentei durante uns dias em Novembro, quatro para ser mais precisa, distanciar-me do stress e da angústia que estão a tomar conta da minha vida. Mas não foi suficiente. Agora fui proibida pelo médico de fazer outra coisa que não seja descansar e sobretudo tentar não sentir (mas como não sentir?) durante 15 dias! Sei, pela minha experiência da prática de yôga que isso é possível, mas não fácil.

Boletim metereológico: Lisboa, dezembro de 2012.

De repente o meu eu interior desabou: primeiro foi o meu filho que está a atravessar uma crise muito difícil, com a qual não sei lidar. Depois foi como se a chuva fria e fina que há tantos dias não pára de cair tivesse revelado e cruzados toda a tristeza da crise em que viv(o)emos.

Como é possível que no meu país, sejam aos milhares as crianças que vão de manhã com fome para a escola? Se vivemos na Europa rica e desenvolvida, se somos tão poucos e temos cada vez menos crianças? Como é possível que tantos avós façam tantos sacrifícios para ajudar os netos e os filhos, desempregados aos milhares? Que os muito mais velhos sejam maltratados nos lares onde as famílias os deixam morrer devagar?

Sei que tudo isto me dói muitíssimo porque me sinto impotente para tentar mudar esta situação, tanto quanto a do meu próprio filho! Não vejo o caminho de saída, a luz ao fundo do túnel! Para uma mãe, a dor de um filho é insuperável, hemorrágica e manietadora. A tentação de desistir, de largar tudo e de optar por um nada, um vazio total sem princípio nem fim, é quase irresistível! Os meus amigos dizem que sempre fui uma lutadora, mas lutar como modo de vida é para samurais, não para mim, no meio-fim da vida ainda aprendiz de simplesmente pessoa.

Não quero viver como samurai!
Não tenho vivido dias de amar a vida! É um quase-pecado, eu sei. E, por isso também, adoeci: viver em desamor com a vida é para mim contra natura.

Preciso de dias de sol, tanto como de respirar ar livre e de um abraço dos meus amigos.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Dia 63: Não comprar mais NADA... NOVO!

Se prestarmos atenção, são já significativas as vozes que, em plena sociedade de consumo, defendem a reutilização maximizada de tudo o que nos é necessário. E, na verdade, por que razão devemos comprar objetos novos, quando estes mesmos objetos abundam à nossa volta em excelente estado e a preços muito inferiores?

As tradicionais feiras de garagem americanas, como as pequenas feiras de velharias em Portugal, constituem há muito a prova de que «o lixo de uns é o tesouro dos outros», trazendo contentamento e inúmeras vantagens a vendedores e a compradores. 

Feira de Velharias em Coimbra, 2008.
Dada a crise em que vivemos, as chamadas lojas «sociais» onde pessoas carenciadas se vão abastecer de artigos doados pela comunidade, devidamente apresentados, organizados por tipo, tamanho e cor, têm, por seu turno, conhecido um incremento significativo. Do mesmo modo, as lojas de roupa em segunda mão, começam a ganhar no nosso país um valor positivo, valorizado agora pela designação vintage.

Loja social em Viana do Castelo, 2010.
Um dos mais conhecidos grupos que se reuniram com o propósito de não comprar nada ou nada novo foi criado, em 2004, por 50 pessoas em São Francisco, EUA. Através de um Yahoo group, denominado The Compact, partilham conselhos, oferecem-se apoio mútuo e ajudam-se na procura do que algum dos membros necessita. Presentemento o grupo conta com mais de 10.000 membros.

Um pouco também por acaso, vi ainda uma reportagem sobre Tamera, uma comunidade localizada há mais de 20 anos no sul de Portugal e de que nunca antes ouvira falar. Originalmente constituída por alemães, reúne agora 160 investigadores e  estudantes de diversos países com o objetivo de, entre outros, refletirem e experimentarem um modo de vida autossutentável. Em Tamera, a par de experiências de captação de água da chuva ou de energia solar, a reciclagem  é um dos objetivo a atingir. No ateliê de costura onde se reutiliza e recicla toda a roupa da comunidade, a mestre é Alice Lindstedt, uma alemã de 74 anos de idade, cujas mãos enrugadas acariciam os tecidos, sejam eles simples retalhos ou peças de vestuário. Consciente do modo como a indústria textil opera globalmente, Alice defende que os tecidos devem ser honrados, reutilizados e usados até à exaustão, em última análise como material de isolamento térmico na construção civil.

Descobri, quase ao mesmo tempo, a empresa australiana Saffars especializada há mais 40 anos em tapetes orientais. Vendem tapetes novos e usados, já que um tapete oriental nunca se desvaloriza inteiramente, e outros, belíssimos, reconstruídos, a partir de dezenas de pedaços através de técnicas de patchwork.

Kilim de patchwork.
Também Ziula Sbróglio no seu sítio Hora de mudar menciona a página de Facebook que criou, este ano, para que um grupo de pessoas da sua cidade pudesse trocar, doar, vender ou emprestar todo o tipo de artigos em segunda mão.

Todas estas propostas e apostas me fizeram refletir sobre a irracionalidade de sempre pensarmos em adquirir objetos... novos, gastando para isso imensos recursos, muito dinheiro e aumentado exponencialmente o lixo que produzimos! Com exceção de algumas peças de roupa interior e de poucos artigos de uso individual como escovas, por que razão deverei eu comprar artigos sempre novos? Sim: roupa, eletrodomésticos, mobília, casa, carro? 

Pensei depois que na verdade o meu carro, um excelente toyota yaris de 2002, foi comprado usado em 2006.

Também o meu apartamento pertence a um edifício construído em 1951 que comprei em 2006, já em 3ª. mão. Tenho também vários móveis em segunda mão: um roupeiro lindo do final do século XIX, um roupeiro pequeno dos anos 40, e, dos anos 50, uma mesa de cozinha, duas mesinhas de apoio, um sofá-cama com cama de gaveta, uma secretária de teka e um sofá individual. Dados, herdados, comprados e restaurados


Armário romântico.
Mesa de cozinha antiga

Os meus principais eletrodomésticos: fogão e exaustor, frigorífico, máquinas da roupa e da loiça e esquentador «inteligente» foram, a meu pedido, integrados no valor da compra da casa porque estavam quase novos e combinavam com a remodelação que o arquiteto a quem a comprei tinha feito a todo o apartamento, em 2002! Mas também por que pensei que não faz bem nenhum aos grandes eletrodomésticos serem levantados, inclinados e mexidos de um lado para o outro. 

Mais: eu tinha uma picadora Moulinex com quase 25 anos, a idade do meu filho! Era originalmente em tons de creme e estava já muito amarelecida, mas sempre picou tudo o que eu quis e foi só por estupidez minha que, quando tentei fazer pão ralado de pão duríssimo, se partiu uma peça no interior. Levei-a a uma dessas novas lojas de reparação de pequenos eletrodomésticos que começaram a surgir com a crise. Deixei uma caução de 10 € e a reparação ficou sujeita a orçamento. 

Mais de três meses depois (porque o negócio novo demorou bastante a organizar-se), propuseram-me um conserto de 29 € que incluía um corpo mais recente branco. Embora uma picadora nova desta marca e tipo custe entre 40€ e 50€, decidi que valia a pena. O dono da loja explicou-me que de duas picadoras velhas tinha feito uma quase nova, a minha, e ainda lhe tinham sobrado peças! Não acordámos o prazo da garantia, mas pediu-me que guardasse o número da etiqueta para o caso de alguma coisa correr mal. Agora, será que esta picadora recauchutada me irá durar mais 25 anos (e será que eu vivo mais 25 anos)? Posso estar enganada, mas acho que fiz uma boa opção!


A minha velha picadora, agora igual a esta com as letras da marca um pouco apagadas.
Assim, para mim, a grande novidade de que ainda não me tinha apercebido é que todas estas opções resultam de uma atitude de consumo consciente. Ou seja, o consumidor (eu, no caso) compromete-se se a comprar apenas o que necessita, sim, mas que já existe, ou seja, em segunda mão. Esta verdadeira «revolução» do consumo é, segundo o excelente sítio americano The Center for a New American Dream 1), exemplificada pela plataforma Etsy

Não há consumidora esperimentada que não conheça a Etsy e a lenda que a precede: oferecer milhares de itens que são verdadeiros achados! Contudo, mais do que ser apenas uma plataforma de compra e venda de artigos feitos à mão ou vintage (com mais de 20 anos), a Etsy tornou-se num modo de apoiar efetivamente as economias locais dos vários estados dos EUA, na medida em que os bens que promove não vêm nem do outro lado do mundo, nem de multinacionais, mas sim dos próprios cidadãos norteamericanos, tendo ainda em conta os respetivos estados. 

Em Portugal, não temos ainda à nossa disposição uma Etsy europeia, mas temos já algumas plataformas semelhantes activas e, com o tempo, a oferta será maior e os preços irão chegar ao seu devido valor. Antes de comprar qualquer coisa de que necessitamos, vale pois a pena consultar sítios como estes:


http://www.custojusto.pt/
http://www.olx.pt/
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1) Segundo a Wikipedia em língua inglesa,The Center for a New American Dream é uma organização não governamental cuja missão explícita é «ajudar os americanos a reduzir e a mudar o sobreconsumismo em troca de uma melhorqualidade de vida, da proteção do ambiente e da promoção da justiça social».

domingo, 25 de novembro de 2012

Dia 56: Alteração do nome do blogue

É verdade, foi hoje, agora mesmo ao terminar a revisão de textos, que percebi o sentido de a fazer.

Claro que continuo no mundo, à minha procura, numa demanda interior que há muito iniciei e espero terminar apenas na hora da minha morte. Contudo, o que realmente pretendo com este meu compromisso de viver uma vida minimalista (de que «Um ano sem compras» constitui apenas a comprovação de um statement), é na verdade amar a vida todos os dias, um a um, sem desperdiçar um único que seja!

Qunto ao inglês do título que também uso por vezes no meu discurso, não tenho o menor dos preconceitos. Leio imenso em inglês, tenho um filho que fala e escreve melhor em inglês do que em português e, quer queiramos ou não, é a língua internacional em que todos nos entendemos.

Adaptado a partir de behance.net


sábado, 24 de novembro de 2012

Dias 54 e 55: DIA INTERNACIONAL SEM COMPRAS, 23 e 24 de Novembro !

In awarenessact
Foi na América do Norte, berço do hiperconsumismo, que, em 1992, foi criado BUY NOTHING DAY (BND), o DIA SEM COMPRAS (DsC), hoje celebrado em cerca de 65 países do mundo desenvovido. 

Contudo, muitos são ainda os que nunca em tal ouviram sequer falar. Portugal é exemplo de um país onde esta mensagem não passou como se pode constatar na mera divulgação anual deste dia no sítio gaia.org.pt. Ontem mesmo, um amigo perguntava a uma amiga, no Facebook, a propósito do logo do NBD 2012, acima publicado: «O que? Não comprar nada! Nada? Nem mesmo um cafezinho?»

Segundo a Wikipédia em língua inglesa, o Buy Nothing Day (BND) é um dia internacional de protesto contra o consumismo, organizado por ativistas sociais e cidadãos preocupados. Originalmente criado em Vancouver pelo artista Ted Dav e promovido pela revista canadiense Adbusters, o DIA SEM COMPRAS propõe a reflexão social sobre o consumo consciente. Em 1997, a data foi em definitivo fixada para o dia seguinte ao Dia de Ação de Graças, a famosa Black Fryday (este ano a 23 de novembro), o dia por excelência do consumo desenfreado: começa em plena madrugada, gera filas intermináveis à porta de grandes armazéns, discussões infindáveis, aquisições absurdas e mesmo violência física. Internacionalmente, este Dia foi fixado para o último sábado de novembro, considerado o primeiro fim-de-semana de consumismo natalício: hoje, portanto!

O apelo, através de publicidade inteligente, a uma reflexão alargada sobre os valores essenciais e as verdadeiras necessidades de consumo do ser humano, a escassez dos recursos naturais e a pegada ecológica originada pela produção e transporte dos produtos, causou grande impacto na América do Norte. Em 2000, a maioria das grandes cadeias televisivas norte americanas impediram a publicidade a esta iniciativa, com exeção da CNN. Vale a pena ver a perplexidade da jornalista desta estação (Come on..., come on...perante afirmações de Kalle Lasn sobre as distorções causadas pelo sobreconsumo do Ocidente que exige 80 % de tudo o que existe como se tivesse três planetas Terra à sua inteira disposição:


Entrevista no Youtube.

Em 2011, o Occupy Movement inspira a campanha Occupy Xmas cujo lema era Buy Nothing Christmas. Posteriormente, Lauren Bercovitch, o produtor da Adbusters Media Foundation propõe uma reconversão de Occupy Xmas: fazer os seus próprios presentes e comprar menos, fazê-lo no pequeno e médio comércio nacional de modo a apoiar a economia local, os artistas e artesãos através das compras de Natal. Presentemente, o Buy Nothing Day, para além de afirmar a celebração mais verdadeira e mais simples do Natal, propõe o consumo natalício como forma de apoio à economia local e à família: um dia para pensar e para iniciar um compromisso pessoal por um outro estilo de vida em que se consuma menos, com consciência e localmente, de modo a produzir menos desperdício e a obter melhor qualidade de vida.



sábado, 17 de novembro de 2012

Dia 48: Controle sistemático de despesas ou o que fazemos com o nosso dinheiro

Uma vez mais a propósito de um post da Ziula no seu blogue Hora de mudar, mas também porque o estou fazendo desde Setembro, considero muito importante, pelo menos nesta fase da minha vida, o controle diário de todos os gastos.

Em relação a outros países, nós em Portugal temos uma vantagem (sim portugueses, nós não temos só problemas, desorganização, crise...) que penso que não existe em outros países: o cartão de débito. Este cartão, para quem não sabe, permite fazer quase todo o tipo de pagamentos e levantamento de dinheiro a partir da nossa conta à ordem, que em geral é aquela onde o nosso salário é depositado. Assim, para o poder utilizae apenas temos de saber de quanto dinheiro dispomos, dado que o cartão não funciona sem dinheiro na conta!

Cartão de Débito: o que é?


Ora, as caixas Multibanco são muitas e estão por todo o lado (atenção de novo, portugueses, outra vantagem nacional: em Espanha, por exemplo, o sistema caixas de serviços bancários não é idêntico ao nosso, e, para levantar ou movimentar dinheiro de uma destas caixas de outo banco, este cobra de imediato uma determinada percentagem por esse serviço), pelo que é fácil controlarmos os saldos e os movimentos mais recentes da nossa conta à ordem.

Aqui devo abrir um parêntesis para as vantagens do home banking que é genericamente considerado um serviço seguro e fiável. E muitíssimo cómodo já que se encontra disponível em toda a parte onde haja ligação à Internet. Os incondicionais do extrato bancário em papel, o qual tem muito provavelmente os dias contados (muitos bancos já não os enviam com regularidade se os movimentos da conta forem considerados insuficientes!), muito embora tal deva demorar ainda o tempo de todos sermos Webincluídos, têm ainda ao seu dispor este controle mensal. Já a Caixa Geral de Depósitos e o Montepio oferecem a boa e velha caderneta que permite controlar, num pequeno livrinho, todas as entradas e saídas da nossa conta à ordem. E guardá-las como comprovativo em pouco espaço por muito tempo.

Com a vida assim facilitada, não necessitamos pois de andar com muito dinheiro na carteira, o que aliás é genericamente recomendado por diferentes entidades da Proteção Civil à Polícia de Segurança Pública e à Defesa do Consumidor. Assim sendo, sou contudo de ipinião que devemos apontar todos os gastos diários pagos com cartão de débito ou em dinheiro. Cada um deverá investir no sistema que melhor funcione para si, até porque todos temos também de lidar com uma agenda de actividades, obrigações, compromissos... em papel, electrónica, ou mental. Se necessitarmos de desdobrar essa agenda em vida profissão e vida pessoal, a complexidade de gestão do nosso quotidiano aumenta, pelo que se torna necessário um maior investimento em organização. O tal que nos permita simplificar a vida, controlando-a melhor.

O meu sistema provisório, que ando a ensaiar em conjunto com a agenda, bem como com o caderno de ideias, é um caderninho Moleskine. Dividi cada página em 3 dias do mês e é neles que anoto todos mas todos os meus gastos: o total das compras de supermercado, a gorgeta que dei ao funcionário da gasolineira e o montante de gasolina gasto, o chocolate que comprei na máquina do serviço, a limpeza a seco do edredon, a mensalidade do yôga, etc. Não posso deixar passar muito mais do que um dia para que as anotações sejam mesmo todas.

Caderno Moleskine para despesas diárias.

Reúno assim, em cada dia, as despesas fixas e constantes, as mais esporádicas e ainda os pequenos gastos em geral invisíveis. O passo seguinte é, no final do mês, confrontar as anotações do caderninho com as entradas e saídas do extrato bancário. Este balanço oferece o retrato exato das nossas vidas financeiras mensais, por rubricas, e permite-nos assim conhecer e controlar o que fazemos com o nosso dinheiro

Num ano sem compras é a única forma que conheço de me motivar a restringir o consumo ao essencial. Ao cor (do latim: coração, núcleo central) de uma vida liberta do consumismo.


domingo, 11 de novembro de 2012

Dia 42: Preparar o Natal!


O post da Ziula sobre Presentes de Natal fez-me pensar o quanto a nossa relação com esta data festiva mudou no tempo de uma única geração! Da festa mais maravilhosa da infância até aos tempos de hoje, quantos Natais diferentes não vivemos já? Falo por mim: da noite vivida como encantada e única a uma noite igual a qualquer outra, comigo mesma, sozinha em casa e nem por isso triste ou infeliz... 

O que todos passámos já, seguramente, foi pelos stress e pela angústia das compras, das prendas e da preparação do jantar de Natal. E nada disso foi bom. Posso dizer, agora com 57 anos, que a maioria dos meus Natais foi dedicada a proporcionar uma noite feliz a outros, sobretudo às crianças e aos jovens. Mas há uns anos a esta parte decidi mudar a maioria dos procedimentos que considerei errados.

Para mim é claro, agora, mais do que nunca, que o Natal é um jantar de família e de afetos. Procuro reunir várias gerações, pelo menos duas, e torná-lo o mais agradável possível para todos. Houve um ano em que comprei um gorro de Pai Natal para cada um e a fotografia de conjunto ficou linda. Se não for para que todos estejam bem, para quê então celebrar o Natal?

Procuro sempre que a sala esteja bem aquecida (sim, Brasil, aqui faz mesmo frio!) e com um ar de festa e que a mesa de Natal fique bonita: acendo muitas velas, enfeito uns ramos de abeto com algumas bolas e purpurina dourada, coloco um cheirinhos de alecrim e plantas aromáticas da época.
 
Velas no Natal.
 
Cada um contribui com uma parte da ceia, muito embora eu me encarregue do principal. Comemos comida própria da época e outra de que os presentes gostem, atendendo a que os meus sobrinhos preferem bifes, os meus cunhados bacalhau cozido e cabrito no forno, e uma das minha irmãs é vegetariana! O mesmo com as sobremesas: para além do bolo rei-rainha e das filhozes que compramos, faço sempre uma mousse de chocolate, a sobremesa apreciada por todos e uma salada de frutas «amarela» que sabe sempre bem depois de tanto doce.

No fim do jantar, abrimos as prendas que são sempre ou simbólicas ou úteis ou combinadas. E, sobretudo, não se tornam uma fonte de ansiedade. No ano passado decidi oferecer aos adultos um saquinho de tecido contendo produtos portugueses, como forma de lembrar que temos de consumir o que produzimos. Assim cada saco continha: uma pequena garrafa de azeite especial, uma embalagem de flor de sal, uma vela, uma lata de atum de conserva em azeite, uns biscoitos secos artesanais e um sabonete ach brito. Todos adoraram. Aos adolescentes dei uma nota de 20 € (50 reais) embrulhada num papel bonito com um lacinho. Às crianças ofereci, como sempre faço, um livro ilustrado.

Depois ficamos o resto do serão a conversar até por volta da meia-noite, hora em que todos vão para casa. 

Devo dizer que tudo isto, no seu conjunto, representa evidentemente um esforço da minha parte que tenho assumido sempre com muito gosto e alegria. Contudo, este ano, também porque me sinto exausta, vou tentar não fazer o principal, ainda mais porque o jantar de Natal, que ainda não combinámos, não deverá ser em minha casa. Já as prendas serão idênticas às do ano passado.

sábado, 10 de novembro de 2012

Dia 41: Silêncios e sorrisos

A crise em que Portugal mergulhou tem vindo a afetar-nos de formas distintas e não propriamente evidentes. Mesmo para aqueles que não se podem integrar no grupo dos grandes flagelados pela crise, sinto que se vive num ambiente de irritabilidade e de suscetibilidade latentes, bem como de incredulidade e de injustiça que com facilidade explodem e disparam em todas as direções! E tudo isto se veio juntar a muito de melancolia e de interiorização da fatalidade que, dizem, nos carateriza enquanto povo!  

Assim, parece-me, agora mais do que nunca, necessária a reorganização da   vida com base em valores da ordem do ser e não do ter. Para nos ajudar a viver melhor e a lutar por um incremento da qualidade de vida: quando se passou a lidar com um um corte salarial crescente, ajuda muito encarar esta situação como o desafio certo na hora certa... O desafio de aprendermos a viver uma vida consciente e deliberadamente minimalista.

Todos sabemos que não fácil e duvido muito que declará-lo abertamente ajude: teremos de enfrentar muita incompreensão, às vezes críticas negativas e até alguma chacota, o que me parece desnecessário num período difícil de mudança interior. Daí que o silêncio me pareça a atitude mais certa. Um silêncio com sorrisos.

Num destes dias perguntei a um colega meu, que admiro pela constante atitude de serenidade e de afabilidade que transmite, como conseguia ele mantê-la em permanência. Respondeu-me, com um sorriso, que na verdade era (também) ... uma defesa. Perguntei-lhe «como de defesa»? Explicou-me então que sempre tinha sido uma pessoa bem consigo própria e com a vida. Contudo, ultimamente os filhos recriminavam-no por chegar a casa abatido e triste: queriam de volta o pai de sempre! E ele não conseguia. Lembrei-me que fuma imenso e disseram-me depois que tinha passado há algum tempo atrás por uma depressão. 

Compreendi melhor como sorrir pode ser uma defesa. Associado a um silêncio atento e, se possível, a uma atitude de escuta em relação aos outros, pode funcionar como uma proteção! Esta aprendizagem vai ser-me muito útil porque sou uma pessoa muito ligada à vida à minha volta. Sou conversadora e opinativa: entusiasmo-me e facilmnere desenvolvo os projectos em que acredito e indigno-me veementemente com o que creio estar errado! E se, profissionalmente, a minha capacidade de conceber e desenvolver projetos é, em princípio, apreciada, não posso dizer o mesmo da minha indignação declarada: quem disse que as verdades são para se declarem? O que me torna vulnerável, num período em que estou exausta e em que o meu filho está numa fase difícil de uma recuperação muito lenta!

Assim, exercer o silêncio e praticar o sorriso passam de agora em diante a constituir, para mim, um projeto de vida, bem difícil diga-se de passagem, mas que sinto que só me fará bem levar por diante. Procurarei consolidá-lo diariamente, sabendo que a reflexão e a meditação quotidianas ajudam muitíssimo. O minimalismo é, muito mais do que «um ano sem compras», uma nova maneira de estar na vida.  A (vi)ver.

quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Dia 32: Ida e volta a uma cidade feliz, Cádiz!

Uma das mais típicas fotografias de Cádiz.

Fui passar quatro dias a Cádiz, uma cidade feliz do sul de Espanha. O meu muito querido sobrinho «adoptivo» vive lá e nasceu-«nos» mais uma menina na familia. Sou madrinha do irmão mais velho, que ainda não tem 3 anos e amiga quase-irmã da avó. Assim, sempre que posso, encontramo-nos em Cádiz.

Devo dizer que o meu afilhadinho é o melhor exemplo que conheço de um niño feliz, tanto quanto a sua família verdadeiramente o é! Existe muita alegria naquela casa, muita música, muitas brincadeiras... O meu sobrinho tem o dom de saber instalar a alegria em qualquer momento e de brincar, seja com as crianças, seja com os cães (atualmente têm apenas um, muito velhinho e cego), seja com quem for, sendo que é um jovem psicólogo extremamente inteligente e um vigoroso adepto do minimalismo! A mãe, uma jovem economista, tem o dom da tranquilidade e é uma das pessoas que conheço mais easy to live with.


Família feliz (colar made in Brasil)

Se juntarmos a esta famíla feliz que tanto me quer e de quem tanto gosto, o facto de poder estar uns dias com a minha melhor amiga, como posso eu não desejar estar com eles? 

Para tornar a proposta ainda mais aliciante, o meu sobrinho afirma que Cádiz é mesmo uma cidade feliz. Grande porto marítimo, o mar está muito presente na vida quotidiana, tanto quanto a luz branca do sul de Europa e a temperatura em geral amena, e tudo junto parece ser o que chama as pessoas para a rua:  muitas crianças com os seus pais ou os seus avós, muitos cães com os seus donos, muitos jovens e muitos mais velhos (elas sempre muito bem arranjadas), estão nos jardins, nas praças, nos cafés, nas esplanadas... As pessoas conversam muito, discutem acaloradamente todos os assuntos, riem e manifestam espontaneamente a sua afetividade. Cádiz é uma cidade viva e esta vida é feita de muita luz, de cheiro a maresia e de gente feliz.

Por último, Cádiz é, como diversas outras cidades de Espanha, uma cidade cosmopolita, onde a cidadania é incentivada e discutida, e a consciência ecológica se está a desenvolver aceleramente: por exemplo, todos os sábados, pela manhã, junta-se um grupo informal de pessoas que percorrem as ruas da cidade de bicicleta. O som das suas campainhas tilintantes recorda-nos que as bicicletas são o transporte citadino ideal, uma boa forma de exercício físico e ainda nos dão alegria de viver.


Cádiz: perspetiva americana em Brookiebabble; perspetiva brasileira em Fuxicos de viagens.

Se não vou mais a Cádiz (e já faltei umas duas ou três vezes a este meu compromisso pessoal) e sempre por um pequeno período de apenas quatro dias, é porque a minha vida aqui exige a minha presença constante. É uma questão pessoal e familiar muito complexa que ando a tentar resolver há muito tempo, mas cuja difícil solução não depende apenas de mim. Esta questão é também uma das razões que me faz sentir permanentemente cansada. Cansada de um cansaço que sei que em grande medida é de origem psicológica. 

Por outro lado, Cádiz dista 600 kms de Lisboa. Sem possibilidade de ir nem de avião (que não há sem passar, pasme-se, por Madrid, o que significaria um vôo de 1200 Kms com escala de várias horas na capital espanhola a um preço exorbitante), nem de comboio (que pára justamente na fronteira sul de Portugal, em Vila Real de Santo António!), a opção é pois entre ir de carro ou de autocarro! Como estou demasiado cansada para conduzir tantos quilómetros em tão pouco tempo, fui como de outras vezes de autocarro!

Google maps.

A viagem de Lisboa a Sevilha dura 7-8 horas com uma paragem de meia hora numa estação de serviço de autoestrada. Em Sevilha, devo aguardar ainda entre uma a duas horas até apanhar outro autocarro para Cádiz, o qual mais de uma hora e meia depois me deixa (enfim!) muito perto da casa do meu sobrinho! Tudo somado são cerca de 10 horas de viagem (ida e volta, 20 horas), o que em quatro dias torna estes meus preciosos encontros familiares muitíssimo pesados. 

O autocarro é razoavelmente bom, mas estar tantas horas sentada numa cadeira pouco ergonómica, mesmo levando a minha almofada cervical (o que aconselho vivamente) torna-se um teste ao exercício da paciência e da boa disposição. Um bom livro ajuda muito e a ligação à Internet que nunca consegui usar ainda mais. Também não mencionei que o autocarro é diario mas a viagem é de noite (entre as 21 horas e as 6 horas da manhã), o que já fiz e só aconselho a quem consiga dormir bem sentado. Entre 5ª. feira e domingo há autocarros de dia que demoram evidentemente... uma grande parte do dia. 

Autocarro expresso carreiras internacionais.

A viagem custa no total 110 € (ca de 289 reais). Mesmo levando um lanche como levei, é impossível não sentir que nos devemos compensar com um sumo de laranja, um café, uma tortilla, um pãozinho fresco! O que, ida e volta facilmente atinge os 20 €, (ca de 53 reais). Esta é pois a minha despesa fixa para ir a Càdiz. 

A esta despesa acrescem as prendas, pedagógicas (livros, pinturas e colagens) para o meu afilhado, e alimentos típicos de Portugal para os meus sobrinhos (enchidos, queijos, pão...) que os adoram. Nos dias em que lá estive comprei e cozinhei pratos portugueses que sei que eles gostam e que também são a minha contribuição para a minha estadia e a minha forma de os ajudar, neste caso, a ultrapassarem a primeira semana após o nascimento de mais um bebé. Ainda não fiz as contas certas, mas penso que no total terei gasto nestas «prendas» ca de 150 € (400 reais). 

Não comprei nada para mim, nem tive tempo nem vontade de o fazer. A excepção (tinha de ser!) foram três livros sobre mudança ecológica, participação comunitária e indústrias culturais que me custaram 47,5 € (125 reais). Mas não apenas estes livros não existem cá e me são pessoal e profissionalmente necessários, como foram a minha forma de contribuir para a livraria alternativa em que os comprei. 

Aberta há 2 anos por uma jovem inteligente e empreendedora, a Livraria- café La Clandestina oferece também a possibilidade de se lanchar muito bem (um excelente café, sumos, bolos, sanduiches... ) e ainda Internet gratuita aos seus clientes. Falámos as duas sobre consciência cívica e participação comunitária e ela afirmou-me que o maior trabalho a fazer é com a população menos instruída e, por conseguinte, mais deslumbrada com o consumo. Ficámos em que o exemplo tem de vir de cima e que valorizar o modo como os nossos avós e bisavós encaravam a vida pode ser uma referência inspiradora.

La Clandestina.

Interior: mais fotos em foursquare.


Estou ainda a recuperar do esforço físico que esta viagem exigiu de mim, tanto mais que trabalhei na vépera de ir e no dia seguinte a chegar, mas estou contente por ter tido força interior para a ter feito. Gastei ca de 350 € (917 reais), o que não é pouco para apenas 4 dias de férias, mas fortaleci laços de amizade e de amor que me são fundamentais e respirei a alegria de viver de uma família e de uma cidade em que essa é a característica mais comum: tão simples quanto isso e, contudo, tantas vezes da ordem do inalcansável!