domingo, 14 de outubro de 2012

Dia 13: Reciclagem de roupa

Reciclar a roupa que possuímos e não usamos é provavelmente uma das primeiras tarefas de todos os que optam por uma atitude de consumo consciente!  Contudo, para a realizarmos como deve ser, devemos ter em conta algumas regras, a saber:

Regra nº. 1: não melhor forma de reciclar do que reutilizar o que já existe. Porquê? 

«Tudo o que deitarmos fora volta-nos»
A campanha ecológica Everything you trow away comes back fá-lo muito bem, como aliás quase tudo o que a excelente organização ambientalista italiana Legambiente promove. Esta campanha afirma-nos que o lixo que todos originamos pura e simplesmente não desaparece. Contudo, ao invés de apenas nos mostrar as desmusuradas e insuperáveis montanhas de lixo que produzimos à superfície da terra, nas profundezas dos oceanos e mesmo no espaço em volta do nosso planeta, esta campanha sugere que o reutilizemos o mais (criativamente) possível.

Regra nº. 2:  Ao comprarmos roupa nova deveremos ter em conta o respetivo fabrico e ler bem as etiquetas. Devemos privilegiar as marcas, porque as há, que respeitam o ambiente e, por maioria de razão, o que oferecem as marcas às pessoas que para elas trabalham.

Se pensarmos apenas em tecidos, há que ter em conta que o algodão é uma cultura extremamente poluente (ao contrário da seda, por exemplo), tal como o tratamento das peles e que, em geral, todas as tintas utilizadas em tecidos também o são. Um simples par de jeans é exemplo do que não deveríamos comprar nunca! Como todos temos jeans, o ideal é pois usá-las ao máximo (comprámo-las, estão compradas), depois reciclá-las e pensar em alternativas ecológicas.

Quando compramos roupa nova há ainda outros problemas a ter em conta, nomeadamente o bem-estar dos pequenos produtores o que, a mim, me parte o coração. A lã, que é um produto ecológico, se comprada no comércio justo defende o trabalho de quem o cultiva e não os intermediários ou as grandes empresas têxteis. Este tipo de transação é contudo ainda incipiente e muito limitada, pelo que ou não temos acesso a ela ou não tem valor comercial útil. Por outro lado, as grandes multinacionais, no caso as do vestuário, têm vindo a comprar a camponeses pobres de todo o mundo grandes extensões de terra a preços irrisórios. O caso das terras roubadas aos índios Mapuches da Patagónia pela Benetton é apenas o exemplo mais conhecido. 

Regra nº. 3: Evitar ao máximo deitar roupa no lixo, reutilizando-a e reciclando-a. Todos temos presente que a roupa que já não queremos deverá ser vendida ou doada. A venda de roupa em segunda mão é um processo mais trabalhoso, mas também mais rentável. Já a doação deve ter em conta que a roupa se encontra em bom estado e que as pessoas ou entidades a quem a doamos lhe vão efetivamente dar bom uso. 
Um exemplo de ONG onde doar e comprar roupa.
Sobra então a roupa cujo destino é o lixo. Mas será este o único destino de toda a roupa que deitamos no lixo?  Não será possível reutilizar ainda pelo menos parte do que em geral se deita fora? Como? 

Se pensarmos criativamente, muitas peças podem ser reaproveitadas para outros usos. Lençóis e toalhas turcas podem dar excelentes panos de cozinha, basta cortá-los simetricamente e fazer-lhes uma bainha (ou não) e servem sempre também para panos de limpeza. As t-shirts e as sweatshirts muito usadas transformam-se também em óptimos panos de limpeza. Já os respetivos desenhos e logos, se estiverem em condições, podem ser recortados e aplicados em outras peças de roupa, o que as crianças e os adolescentes adoram. Mesmo em condições menos boas a Internet oferece imensas ideias para as reciclar. Os collants rotos, dependendo da densidade, permitem múltiplas reutilizações: podem ser cortados e transformar-se em leggings e em meias curtas (a parte cortada enrola-se por si mesma devido à elasticidade da malha), elásticos para o cabelo, fio para tricotar, embalagens para colocar roupa delicada na máquina... um sem número de itens que a Internet mostra sob a designação costumizar e DIY (Do It Yourself). Em português, vale a pena consultar os sítios O lado verde da vida e 365 coisas que posso fazer para diminuir a minha pegada ecológica.


Mas, até mesmo usados, tal e qual a imagem abaixo, parecem ser agora um must !
Collans ultra fashion.

As peças de roupa de bons tecidos, parcialmente estragados ou manchados, devem ser reconvertidos e todos nós temos ideia de como o fazer: as calças em calções, os blazers em coletes, as saias e vestidos compridos em saias e vestidos curtos ou em túnicas e blusas. Isto era a reutilização básica que as nossa mães e avós faziam sem lhes passar pela cabeça deitar a roupa fora. A Internet e as cada vez mais numerosas oficinas de customização de roupa dão-nos agora ideias e oportunidades de criar peças muito mais sofisticadas e originais. O que sobra em bom estado de um lençol alinhado ou de algodão do Egito facilmente se transforma num top ou numa túnica bonitos e tão confortáveis, como só os tecidos usados podem ser.

Nos últimos anos, como gosto de costurar e isso me faz muito bem, tenho reaproveitado e personalizado muita roupa. Muitos vestidos de tecido fininho de verão passam, simplesmente com o tempo, a camisas de noite. E não é apenas por estarem usados, mas também por serem de alças finas ou por terem um ar tão juvenil que agora já não consigo usar. Com uma customização mínima, tenho também montado pijamas muito bonitos, a partir de peças desirmadas provindas de outros «donos», como o meu filho ou as minha irmãs ou de outras utilizações como o yoga ou a ginástica.

Sou daquelas pessoas pelas quais tudo o que seja écharpes, lenços e pashminas tem uma atração incontrolável: saltam-me para o pescoço, para a cabeça, para a cintura, para a carteira. E eu adoro, claro!. Esta relação é tão forte que muitos me têm sido oferecidos pelos meus amigos. Quando descobri que tinha duas gavetas cheias destes maravilhosos panos de todas as cores, tamanhos e tecidos, percebi que se tratava de uma herança materna: a minha mãe tinha uma enorme gaveta cheia e, às vezes, deixava-nos brincar com eles. Ainda me lembro do perfume dessa gaveta deslumbrante.


Peças que me adoram!

Há cerca de três anos atrás, ao começar a destralhar o meu armário, confesso que apenas consegui doar uma quantidade pequena dos meus panos, pelo que passei a investir na sua reutilização. Como todos sabem, este tipo de panos é a peça mais básica e mais antiga da história do vestuário dado que permite uma grande versatilidade de usos que muitos povos de mundo praticam desde há milhares de anos. Presos simplesmente com nós ou com pregadeiras servem de saias, de vestidos, de blusas, mas também de toalhas e de caminhos de mesa, de forro de sofás, de cortinas... No Youtube encontram-se múltiplos exemplos. São por isso também peças excelentes para levar em viagem. 

Se pretendermos reconvertê-los em peças mais sofisticadas, costuramo-los. Em setembro, fiz de uma écharpe de inverno um casaquinho elegante e, de uma fronha de almofada de algodão com um desenho muito bonito, uma blusa de primavera. Ambas, como outras que tenho feito, são peças soltas, desconstruídas (abaixo exemplificadas) fáceis de fazer, que até podem ficar tortas e mal acabadas como as da conhecida marca Desigual, mas de que gosto muito.




                              
Blusa em dois tecidos.
Blusa-vestido Zara, pormenor.
Também as peças de lã, um produto mais ecológico, podem ser facilmente cortadas e remontadas em novas peças e são costuráveis como qualquer outro tecido. E são evidentemente desmancháveis e rebobináveis em novelos. O que as nossas avós também faziam até porque para esta geração «a lã nunca se deitava fora». Pode-se deste modo tricotar novas roupas, também do tipo solto e desconjuntado, ou mesmo outro tipo de itens.

Diversas peças de roupa ou pedaços de tecido podem ainda ganhar uma nova vida se forem tingidos, o que se pode fazer em casa, com tintas não poluentes ou produtos naturais: o chá e a beterraba, por exemplo, com resultados no mínimo surpreendentes. Um vez mais toda a informação se encontra disponível na Internet.

Caso não seja uma pessoa dada a estas aventuras manuais, excelentes para o nosso equilíbrio emocional e que aconselho vivamente, nem que seja pela experiência de criar e montar uma nova peça de roupa a partir de retalhos diversos, pode sempre fazer antes de deitar no lixo uma seleção de retalhos, rendas, fitas, botões... para oferecer a quem tenha este gosto. 

Por último, e esta proposta é para todos, quando precisarmos de comprar uma peça de vestuário e acessórios, ou de roupa de casa e mobiliário por que não tentar primeiro o comércio de artigos em segunda mão: lojas, armazéns, feiras e Internet?




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