quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

«Desejar o impossível é um direito»: Bom Ano de 2016!



Ângela Luzia, 2015


Nestes dias festivos tenho continuado a conversa interior com o meu eu futuro de daqui a 10 anos. Sei muito concretamente no que quero trabalhar e esta certeza, aconteça o que acontecer com a instituição em que trabalho, ajuda-me a encarar melhor os anos que aí vêm. Claro que se a minha Direção-Geral for extinta, terei de procurar o lugar onde o meu trabalho seja mais produtivo e compensador, mas atendendo à falta de técnicos superiores especializados na função publica portuguesa, tal não me parece impossível. E se for, como tão bem diz a minha amiga Ângela: «Exigir não menos que o impossível é um direito. 2016 será o que formos capazes de fazer. Juntos.»

O mês de janeiro será fundamental para a saúde do meu filho, já que tem agendadas duas consultas muito importantes: uma de neuropsiquiatria e outra do sono, com os melhores especialistas portugueses destas áreas. Será um mês em que tenho de estabelecer com ele e com a sua namoradinha regras de vida e de apoio familiar simples, mas muito efetivas. Ambos são frágeis e ambos estão doentes, mas ambos vão ter de lutar por uma vida melhor com o meu apoio e o do pai de Pedro.

O meu eu futuro tem-me avisado do cuidado que preciso ter comigo própria e do tempo que para tal tenho necessariamente de reservar, todos os dias e com regularidade. Todavia, apesar de este ser um discurso que há muito conheço de cor, continuo sem saber muito bem como o levar a cabo. A única solução é ir agindo sem desistir: a comida saudável, o yogao andar a pé, o estar com os amigos...

Estar com os amigos é estar também com os daqui que, de formas tão diversas, estão também muito comigo. Feliz 2016!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Noite de Natal: uma laranja amarga e doce

Lá fora estava frio e uma extraordinária lua cheia de Natal! Ao longo do dia, muita tristeza passara já no meu coração: mais um ano difícil com o meu filho doente, um grande cansaço que agora me vem acompanhando demasiado, os sete anos de trabalho a vir que não sei como serão, a dúvida que me assalta cada vez mais de não conseguir manter o ânimo e a alegria de viver que têm sido tanto parte de mim...

Mas a nossa ceia de Natal foi muito feliz. Reuni os meus sobrinhos, o que me dá sempre muito gosto, duas das minhas irmãs, dois dos meus cunhados, o pai do meu filho, o meu filho, a namoradinha dele e a sua tia avó. Catorze pessoas, três gerações em torno de um comboio de três mesas, onde estreei as toalhas de linho fino que o meu bisavô me ofereceu quando eu nasci, há 60 anos, portanto! Eu sento-me sempre à cabeceira da mesa, reservo alguns lugares «especiais» e este ano ofereci a outra cabeceira, à minha sobrinha mais nova, a benjamina desta geração, agora com 20 anos.

Como em outros anos, comprei a maior parte da comida já confecionada, mas ainda assim respeitei a tradicional dieta natalícia: bacalhau e lombo de borrego assados com batatas no forno (tradição da Beira), acompanhados de muitos grelos e couves salteados. Para os mais jovens e os vegetarianos uma empada de carne, o arroz da tia Vera, as migas de broa, os cogumelos estufados e os ovos mexidos. 

No meu discurso inaugural, agradeci muito a presença de todos, este ano acrescentada com a da nossa tia avó e a da Filipinha. Três salvas de palmas depois, passámos à comida, às conversas misturadas e interrompidas, aos sorrisos e gargalhadas, à mousse de chocolate, à salada de frutas, às fatias douradas, à troca de alguns presentes, a mais sorrisos e abraços...

Quando me fui deitar, estava exausta mas em paz. A ternura que me foi oferecida arredou de mim a tristeza e embalou o meu sono.


Fonte: Nasa

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Conversar com o nosso eu futuro para planear os próximos anos

Li num destes fins de semana, a partir dos «Links da semana» selecionados pela Bruna de Uma vida mais simples (aqui do lado), um texto do sítio Valores reais fazendo famílias felizes! da autoria de Guilherme ..., intitulado «Conversando com o futuro que eu anseio», um post muito estimulante que vos convido a ler. Também a «minha» Lud, já em dezembro, falava nos eus futuros no seu Ludmilismos

Tendo feito há dois meses 60 anos e tendo que trabalhar, segundo a legislação portuguesa, no mínimo mais sete anos, para poder usufruir de uma reforma que me poderá, no máximo, oferecer 80% do meu salário atual, é evidente que tenho de «construir» um projeto profissional que dê sentido aos últimos anos que vou dedicar ao serviço público. Sobretudo porque eu não posso nem quero passá-los a «sonhar com a reforma»...

Por outro lado, a minha profissão, bibliotecária de leitura pública, é realmente a minha vocação. Confirmei-o, sem margem para dúvidas, há mais de 30 anos atrás, ao ler os meus testes de orientação profissional realizados quando eu tinha 16 anos, ou seja, no início dos anos 70. Mais tarde percebi que os resultados estavam certos, dado que o que mais me agradava na minha profissão era conseguir responder a uma solicitação transversal a todos os leitores de todas as idades e que constitui o core (o coração) do nosso trabalho: «eu queria (ler) um livro igual a este!» E o igual não é igual, mas é o do mesmo género, o que, sem emocionalmente nos defraudar, nos mantém o estímulo da adição à leitura, que amplia os nossos horizontes e nos oferece incontáveis horas de alegria de viver...

Quando, mais recentemente, as Bibliotecas Públicas, muito mais do que coleções de livros, se assumiram como um lugar de ideias e de debate elevado de ideias, constatei que uma das minhas maiores realizações profissionais era tão somente... o lema da Nokia: «connecting people», evidentemente também uma das funções primordiais da biblioteca de leitura pública.



Conversando com o meu eu futuro, apercebi-me pois que dificilmente poderei mudar de vocação, tanto mais quanto agora sou uma senior librarian. Assim, nos próximos sete anos de vida profissional, seja qual for o âmbito do meu trabalho: textos, imagens, ideias, pessoas, irei lutar para a exercer.

Esta primeira conclusão deixou-me muito feliz.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Solstício do inverno de 2015

O Solstício de inverno chegou-nos esta madrugada, em Portugal precisamente às 04:48. A noite mais longa do ano foi precedida pelo dia mais curto do ano, o de ontem, dia 21 de dezembro. O nosso sol encontra-se no ponto mais distante na sua órbita em torno da Terra, denominado Afélio (do latim "aphelium", derivado de aphos, que quer dizer longínquo).

O inverno começou pois e com ele as temperaturas baixas desta semana que nos trará um Natal com chuva cuja falta se falta se começa já a fazer sentir...Irá prolongar-se por quase 99 dias até ao próximo Equinócio, o da primavera, que ocorre no dia 20 de Março de 2016, também de madrugada, às 04:30.


O Sol virado a sul com indicação da respetiva altura ao meio dia.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Portugal, um país a sonhar com a aposentação?

O sítio The new american dream (um dos meus blogues aqui do lado) é, claro, um dos lugares que visito periodicamente com muito gosto. No melhor do espírito americano propõe-nos a redefinição do american dream centrado agora numa vida de qualidade. Assenta em em diferentes propostas concretas, projetos em curso e ideias inpiradoras.

A leitura que fiz de um único folgo da série de histórias de pessoas que estão a viver o sonho americano requalificado, mesmo tendo já eu lido imensas ao longo dos últimos tempos, fez-me repensar seriamente os meus projetos, planos e metas.

Até há cerca de cerca de quatro anos atrás, o meu trabalho era muito próximo de um trabalho de sonho, na medida em que me realizava todos os dias. Mesmo quando estava mais abatida, em geral com os problemas de saúde da minha família, não me lembro de dias em que não sentisse que estar ali fazia de alguma forma a diferença na vida de muitas pessoas, e que tal implicava também o meu próprio crescimento interior.

Trabalhei sempre muito porque fazê-lo era um desafio gratificante e aprazível, às vezes um deslumbramento.

Contudo, a crise e a subsequente política de austeridade que os mercados e a Europa nos impuseram traduziram-se num imenso desinvestimento na cultura, na saúde, no ensino, no trabalho e todos disso nos ressentimos brutalmente como nunca antes.

Grandes cortes nos vencimentos, aumento do número de horas de trabalho semanal, diminuição do número de dias de férias e dos dias feriados. A ameaça, velada, real e muito presente, dos trabalhadores serem enviados para a «mobilidade»: um regime de desemprego transitório em que se ganha progressivamente menos até uma eventual recolocação ou uma desvinculação da contratação de trabalho. Dado que a legislação obrigou as prestações mensais da aposentação a descer sem fim seguro à vista, enquanto a idade da reforma não parava de subir, muitos, demasiados, optaram por reformas antecipadas, com prejuízo das respetivas prestações mensais e independentemente do número de anos de trabalho contributivo.

Esta situação, agravada pelo bloqueio da entrada no mercado de trabalho em geral, e na administração pública em particular, aos mais jovens, conduziu-nos coletivamente a uma situação emocional intensa e dolorosamente vivida em Portugal: envelhecidas, desmotivadas, muitas vezes mesmo seriamente deprimidas, a função pública em geral e uma significativa percentagem da população trabalhadora passaram a «sonhar com a reforma».


Portugal: Abel Pereira, 2009
Eu... não aceito. Recuso-me.

Já me chamaram utópica, «desligada» e desconhecedora da realidade dos factos, pessoa de demasiadas «ideias inexequíveis», em troca de muitas discussões duras e difíceis, sobre o que podemos e não podemos fazer, o que devemos e não devemos fazer... Contudo, eu não me resigno a viver os próximos sete anos da minha vida a «sonhar com a aposentação». Tenciono pois pensar, e, subsequentemente, levar a cabo os meus projetos, com planos e metas a cumprir.

Disseram-me que os orientais, sempre mais sábios do que nós, afirmam que os primeiros vinte anos de vida são para nos tornarmos adultos, os segundos são para nos formarmos profissionalmente, os terceiros são para nos especializarmos e os quartos, para nos dedicarmos a nós próprios e à comunidade em que vivemos.

É pois o que tenciono fazer nos próximos 10 anos de vida. De forma planeada e consistente. Todos os dias, de agora em diante.


 O Buda que ri, também conhecido como o Buda da riqueza e da sorte, que me foi oferecido de presente este Natal. Não poderia ser mais apropriado.