quinta-feira, 31 de dezembro de 2015

«Desejar o impossível é um direito»: Bom Ano de 2016!



Ângela Luzia, 2015


Nestes dias festivos tenho continuado a conversa interior com o meu eu futuro de daqui a 10 anos. Sei muito concretamente no que quero trabalhar e esta certeza, aconteça o que acontecer com a instituição em que trabalho, ajuda-me a encarar melhor os anos que aí vêm. Claro que se a minha Direção-Geral for extinta, terei de procurar o lugar onde o meu trabalho seja mais produtivo e compensador, mas atendendo à falta de técnicos superiores especializados na função publica portuguesa, tal não me parece impossível. E se for, como tão bem diz a minha amiga Ângela: «Exigir não menos que o impossível é um direito. 2016 será o que formos capazes de fazer. Juntos.»

O mês de janeiro será fundamental para a saúde do meu filho, já que tem agendadas duas consultas muito importantes: uma de neuropsiquiatria e outra do sono, com os melhores especialistas portugueses destas áreas. Será um mês em que tenho de estabelecer com ele e com a sua namoradinha regras de vida e de apoio familiar simples, mas muito efetivas. Ambos são frágeis e ambos estão doentes, mas ambos vão ter de lutar por uma vida melhor com o meu apoio e o do pai de Pedro.

O meu eu futuro tem-me avisado do cuidado que preciso ter comigo própria e do tempo que para tal tenho necessariamente de reservar, todos os dias e com regularidade. Todavia, apesar de este ser um discurso que há muito conheço de cor, continuo sem saber muito bem como o levar a cabo. A única solução é ir agindo sem desistir: a comida saudável, o yogao andar a pé, o estar com os amigos...

Estar com os amigos é estar também com os daqui que, de formas tão diversas, estão também muito comigo. Feliz 2016!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Noite de Natal: uma laranja amarga e doce

Lá fora estava frio e uma extraordinária lua cheia de Natal! Ao longo do dia, muita tristeza passara já no meu coração: mais um ano difícil com o meu filho doente, um grande cansaço que agora me vem acompanhando demasiado, os sete anos de trabalho a vir que não sei como serão, a dúvida que me assalta cada vez mais de não conseguir manter o ânimo e a alegria de viver que têm sido tanto parte de mim...

Mas a nossa ceia de Natal foi muito feliz. Reuni os meus sobrinhos, o que me dá sempre muito gosto, duas das minhas irmãs, dois dos meus cunhados, o pai do meu filho, o meu filho, a namoradinha dele e a sua tia avó. Catorze pessoas, três gerações em torno de um comboio de três mesas, onde estreei as toalhas de linho fino que o meu bisavô me ofereceu quando eu nasci, há 60 anos, portanto! Eu sento-me sempre à cabeceira da mesa, reservo alguns lugares «especiais» e este ano ofereci a outra cabeceira, à minha sobrinha mais nova, a benjamina desta geração, agora com 20 anos.

Como em outros anos, comprei a maior parte da comida já confecionada, mas ainda assim respeitei a tradicional dieta natalícia: bacalhau e lombo de borrego assados com batatas no forno (tradição da Beira), acompanhados de muitos grelos e couves salteados. Para os mais jovens e os vegetarianos uma empada de carne, o arroz da tia Vera, as migas de broa, os cogumelos estufados e os ovos mexidos. 

No meu discurso inaugural, agradeci muito a presença de todos, este ano acrescentada com a da nossa tia avó e a da Filipinha. Três salvas de palmas depois, passámos à comida, às conversas misturadas e interrompidas, aos sorrisos e gargalhadas, à mousse de chocolate, à salada de frutas, às fatias douradas, à troca de alguns presentes, a mais sorrisos e abraços...

Quando me fui deitar, estava exausta mas em paz. A ternura que me foi oferecida arredou de mim a tristeza e embalou o meu sono.


Fonte: Nasa

quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

Conversar com o nosso eu futuro para planear os próximos anos

Li num destes fins de semana, a partir dos «Links da semana» selecionados pela Bruna de Uma vida mais simples (aqui do lado), um texto do sítio Valores reais fazendo famílias felizes! da autoria de Guilherme ..., intitulado «Conversando com o futuro que eu anseio», um post muito estimulante que vos convido a ler. Também a «minha» Lud, já em dezembro, falava nos eus futuros no seu Ludmilismos

Tendo feito há dois meses 60 anos e tendo que trabalhar, segundo a legislação portuguesa, no mínimo mais sete anos, para poder usufruir de uma reforma que me poderá, no máximo, oferecer 80% do meu salário atual, é evidente que tenho de «construir» um projeto profissional que dê sentido aos últimos anos que vou dedicar ao serviço público. Sobretudo porque eu não posso nem quero passá-los a «sonhar com a reforma»...

Por outro lado, a minha profissão, bibliotecária de leitura pública, é realmente a minha vocação. Confirmei-o, sem margem para dúvidas, há mais de 30 anos atrás, ao ler os meus testes de orientação profissional realizados quando eu tinha 16 anos, ou seja, no início dos anos 70. Mais tarde percebi que os resultados estavam certos, dado que o que mais me agradava na minha profissão era conseguir responder a uma solicitação transversal a todos os leitores de todas as idades e que constitui o core (o coração) do nosso trabalho: «eu queria (ler) um livro igual a este!» E o igual não é igual, mas é o do mesmo género, o que, sem emocionalmente nos defraudar, nos mantém o estímulo da adição à leitura, que amplia os nossos horizontes e nos oferece incontáveis horas de alegria de viver...

Quando, mais recentemente, as Bibliotecas Públicas, muito mais do que coleções de livros, se assumiram como um lugar de ideias e de debate elevado de ideias, constatei que uma das minhas maiores realizações profissionais era tão somente... o lema da Nokia: «connecting people», evidentemente também uma das funções primordiais da biblioteca de leitura pública.



Conversando com o meu eu futuro, apercebi-me pois que dificilmente poderei mudar de vocação, tanto mais quanto agora sou uma senior librarian. Assim, nos próximos sete anos de vida profissional, seja qual for o âmbito do meu trabalho: textos, imagens, ideias, pessoas, irei lutar para a exercer.

Esta primeira conclusão deixou-me muito feliz.

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Solstício do inverno de 2015

O Solstício de inverno chegou-nos esta madrugada, em Portugal precisamente às 04:48. A noite mais longa do ano foi precedida pelo dia mais curto do ano, o de ontem, dia 21 de dezembro. O nosso sol encontra-se no ponto mais distante na sua órbita em torno da Terra, denominado Afélio (do latim "aphelium", derivado de aphos, que quer dizer longínquo).

O inverno começou pois e com ele as temperaturas baixas desta semana que nos trará um Natal com chuva cuja falta se falta se começa já a fazer sentir...Irá prolongar-se por quase 99 dias até ao próximo Equinócio, o da primavera, que ocorre no dia 20 de Março de 2016, também de madrugada, às 04:30.


O Sol virado a sul com indicação da respetiva altura ao meio dia.


segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Portugal, um país a sonhar com a aposentação?

O sítio The new american dream (um dos meus blogues aqui do lado) é, claro, um dos lugares que visito periodicamente com muito gosto. No melhor do espírito americano propõe-nos a redefinição do american dream centrado agora numa vida de qualidade. Assenta em em diferentes propostas concretas, projetos em curso e ideias inpiradoras.

A leitura que fiz de um único folgo da série de histórias de pessoas que estão a viver o sonho americano requalificado, mesmo tendo já eu lido imensas ao longo dos últimos tempos, fez-me repensar seriamente os meus projetos, planos e metas.

Até há cerca de cerca de quatro anos atrás, o meu trabalho era muito próximo de um trabalho de sonho, na medida em que me realizava todos os dias. Mesmo quando estava mais abatida, em geral com os problemas de saúde da minha família, não me lembro de dias em que não sentisse que estar ali fazia de alguma forma a diferença na vida de muitas pessoas, e que tal implicava também o meu próprio crescimento interior.

Trabalhei sempre muito porque fazê-lo era um desafio gratificante e aprazível, às vezes um deslumbramento.

Contudo, a crise e a subsequente política de austeridade que os mercados e a Europa nos impuseram traduziram-se num imenso desinvestimento na cultura, na saúde, no ensino, no trabalho e todos disso nos ressentimos brutalmente como nunca antes.

Grandes cortes nos vencimentos, aumento do número de horas de trabalho semanal, diminuição do número de dias de férias e dos dias feriados. A ameaça, velada, real e muito presente, dos trabalhadores serem enviados para a «mobilidade»: um regime de desemprego transitório em que se ganha progressivamente menos até uma eventual recolocação ou uma desvinculação da contratação de trabalho. Dado que a legislação obrigou as prestações mensais da aposentação a descer sem fim seguro à vista, enquanto a idade da reforma não parava de subir, muitos, demasiados, optaram por reformas antecipadas, com prejuízo das respetivas prestações mensais e independentemente do número de anos de trabalho contributivo.

Esta situação, agravada pelo bloqueio da entrada no mercado de trabalho em geral, e na administração pública em particular, aos mais jovens, conduziu-nos coletivamente a uma situação emocional intensa e dolorosamente vivida em Portugal: envelhecidas, desmotivadas, muitas vezes mesmo seriamente deprimidas, a função pública em geral e uma significativa percentagem da população trabalhadora passaram a «sonhar com a reforma».


Portugal: Abel Pereira, 2009
Eu... não aceito. Recuso-me.

Já me chamaram utópica, «desligada» e desconhecedora da realidade dos factos, pessoa de demasiadas «ideias inexequíveis», em troca de muitas discussões duras e difíceis, sobre o que podemos e não podemos fazer, o que devemos e não devemos fazer... Contudo, eu não me resigno a viver os próximos sete anos da minha vida a «sonhar com a aposentação». Tenciono pois pensar, e, subsequentemente, levar a cabo os meus projetos, com planos e metas a cumprir.

Disseram-me que os orientais, sempre mais sábios do que nós, afirmam que os primeiros vinte anos de vida são para nos tornarmos adultos, os segundos são para nos formarmos profissionalmente, os terceiros são para nos especializarmos e os quartos, para nos dedicarmos a nós próprios e à comunidade em que vivemos.

É pois o que tenciono fazer nos próximos 10 anos de vida. De forma planeada e consistente. Todos os dias, de agora em diante.


 O Buda que ri, também conhecido como o Buda da riqueza e da sorte, que me foi oferecido de presente este Natal. Não poderia ser mais apropriado.

quinta-feira, 22 de outubro de 2015

Fiz 60 anos!

Ontem foi um dia muito importante para mim: fiz 60 anos! Recebi muitos abraços, flores, telefonemas, prendas do coração, dezenas de mensagens na... minha página de Facebook profissional Senti-me muito acarinhada por muitas pessoas de quem sinceramente nada esperava.

Gosto da idade que tenho, do saber acumulado que fui adquirindo e da segurança que tantos anos de vida me ensinaram. Sei também que não deixarei nunca de ser uma grande entusiasta por projetos que considero vitais, o que significa, cheios de VIDA! De potencialidades de permitir viver uma vida boa, mais completa e significativa.


De entre esses projetos, estão evidentemente as Bibliotecas Públicas, a minha grande referência e vocação profissionais. Mas há outros que gostaria muito de desenvolver, como a versão portuguesa do projeto brasileiro Roupa Livre. Ou viver os anos que tenho para viver em sistema de co-housing(*).

A minha intenção de aderir progressivamente a um tipo de vida minimalista, que inclua o respeito pela natureza e por todos os seres, que seja criativo e enriquecedor, saudável e tanto quanto possível sustentável e não poluente, é agora inequívoca.

Apesar dos pesares, sinto-me muito bem comigo e com a vida!



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(*) Uma forma de gestão comum de uma propriedade que garante a vida privada de todos as gerações que nela residem em habitações autónomas, beneficiando simultaneamente de espaços comuns (lavandaria, cozinha, sala de refeições, espaços para eventos, atividades diversas, co-working...) e de projetos coletivos. 

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Minimalismo orientado

Há dois anos, escrevi aqui sobre a necessidade que sentia de aprofundar um modo de vida minimalista. Procurava então um equilíbrio entre a adesão sincera a uma vida frugal e a exigência de uma vida melhor, atitudes essas que me parecem agora cada vez mais interligadas, não podendo, para mim, existir uma sem a outra.

O respeito para com todos os seres vivos e a natureza, a sustentabilidade e o consumo consciente, o desenvolvimento pessoal ao longo da vida, 
em paralelo com a participação ativa na comunidade em que me insiro, são agora valores inquestionáveis. Uma vida materialmente frugal e interiormente rica, expressa num quotidiano de serenidade, sabedoria, alegria, harmonia e graça.

Estas são assim as linhas pelas quais conscientemente me guio, muito embora o meu quotidiano esteja longe ainda de as integrar. Como a Estrela Polar no hemisfério norte, indicam-me a direção certa e se estou ou não a enganar-me no caminho a seguir. 





Comecei entretanto a compor uma rotina noturna. Em cada fim de dia, antes de adormecer, procuro ver por onde andei, o que fiz bem e o que fiz mal, e se o balanço entre os dois é positivo (e muitas vezes não é...). Depois faço a minha ladainha de gratidão: nomeio uma a uma todas as dádivas que a vida me ofereceu ao longo do dia. Por último, procuro visualizar os meus desejos concretos de felicidade para os que amo e para mim própria. Termino como comecei: confiando na Estrela Polar!


quarta-feira, 23 de setembro de 2015

Noites de luar

Como todos os anos, o equinócio, (do latim, aequus (igual) noctium (noite), significando que a duração da noite (é) igual à do dia) de outono tem lugar em setembro e ocorreu este ano às 09:20 do dia de hoje. 

Este instante marcou, no Hemisfério Norte, o início do outono que se prolongará por cerca de 90 dias, mais precisamente 89,81 dias, até ao próximo Solstício que terá lugar na madrugada do dia 22 de Dezembro, às 04:48.

No dia 28, o céu de setembro presenteia-nos, às 19h10 com uma Super Lua ou Super Lua Cheia, a ocasião em que a lua cheia se situa a não mais de 10% do seu ponto mais próximo da Terra no percurso da respetiva órbita, que se designa de perigeu. Isto acontece porque a órbita lunar é elíptica e o seu centro não coincide com o centro da Terra. 


Mais próxima da Terra, a Lua apresenta-se maior e mais brilhante que o normal.

Contudo, mais do que apenas uma Super Lua, no dia 28 de setembro poderemos assistir, entre  2h07 e as 3h47, a um eclipse total da Super Lua, fenómeno astrológico relativamente raro que só voltará a ocorrer em 2033.


Fonte: Observatório Astrológico de Lisboa.

Boas noites de luar!

sábado, 12 de setembro de 2015

«O caminho do meio»: recomeçar!

Numa das suas acepções mais simplistas, o caminho do meio é, para o budismo, a adopção de uma atitude perante a vida sob o signo da harmonia e da moderação, equidistante da auto-indulgência e da morte. Percorrer este caminho exige autodisciplina e vigilância constantes, mas permite-nos viver uma vida melhor.

Todos as nossas atitudes e expressões devem pois fomentar e derivar da harmonia e da moderação: da forma de andar ao tom de voz, aos nossos gestos, às afirmações que fazemos, por mais simples que sejam. Neste sentido o yoga ajuda-me muito, porque a prática ensina-nos a respirar bem, a movimentarmo-nos e a pensar-sentir com serenidade, harmonia e graça. O silêncio é também uma boa prática, sobretudo para nos observarmos a nós próprios e aos outros. Tentar viver um dia em silêncio constitui só por si uma experiência única. 

Rever sistematicamente os compromissos que nos impusemos faz também parte deste caminho do meio.

Dhyana mudra*
Por muito difícil que seja, e é-o mesmo, é sempre muito mais fácil desenhar uma série de rotinas boas do que cumpri-las efetivamente. Contudo, para mim, o importante é que as rotinas me servem como metas concretas e guiam a orientação dos meus dias.

Assumo com responsabilidade mas sem culpa que posso falhar algumas vezes. Por exemplo, ainda não consegui alimentar-me segundo o dito popular que preconiza o tipo de refeições que devemos fazer: pequeno-almoço de rei, almoço de príncipe, jantar de pobre. Acho que a minha dieta é agora mais de príncipe e de pobre misturados, sobretudo porque, como a maioria de nós, quase toda a vida segui o regime oposto: comer melhor e mais ao jantar, menos ao almoço e e ainda menos de manhã.


Em contrapartida, tenho conseguido fazer diária e semanalmente o exercício que me propus: vinte minutos de caminhada a pé e 10 minutos de prática de yoga logo ao acordar, todos os dias, e duas aulas de yoga por semana ao fim da tarde.


Cuidar mais de mim, para além da dieta e do exercício, tem sido difícil. Acho que enquanto o meu filho estiver doente terei grandes dificuldades em fazê-lo. Por outro lado, vou fazer para a semana um bom corte de cabelo e tenho aplicado máscaras de nutrição. O meu cabelo é agora completamente natural, com muitos fios brancos no enquadramento do rosto. Ainda me estou a habituar a mim, mas a libertação das colorações sistemáticas é uma benção!


Li algures num site sobre styling que um look cuidado obriga a usar três peças, sendo que uma delas pode ser um lenço, um colar, um chapéu... As cores do que vestimos devem também ser pensadas: três cores, coordenadas entre si de forma original (sapatos a condizer com uma echarpe, uma carteira a condizer com as calças, etc.), padrões diferentes de uma mesma cor, ou gradações da mesma cor... Não tem sido fácil, mas estas indicações têm funcionado como uma bússola para me obrigar a não andar sempre vestida de preto... um uniforme que usei muitos anos.


O destralhamento da casa vai avançando aos fins de semana, porque durante a semana tenho pouco tempo. Quero muito livrar-me de tralha, coisas, stuffs... que para mim não têm nem utilidade, nem sentido. Consegui organizar uma parte. As coisas mais valiosas, parte das quais prendas, numa cristaleira/vitrine, a minha coleção de literatura infantil em duas estantes de 2 metros por 2,40 e os tecidos e peças de roupa que gostaria de reciclar, dobrados e etiquetados numa cómoda. Estes três grupos aguardam um doação e uma resolução «boas». Desta vez pretendo integrar a simplicidade «para sempre», muito embora saiba perfeitamente que nada é nunca para sempre


A minha relação com o trabalho tem vindo a pacificar-se mês após mês e não tenciono voltar a fazer sobre-esforços, nem envolver-me em mais lutas para defender o que acho correto... Faço o melhor que posso, como sempre. Apenas. Por isso optei também por um ritmo mais lento mas regular, o que nesta fase do ano é aliás fácil.


Fazer o balanço sistemático destas metas concretas, reajustá-las, acrescentá-las ou modificá-las orienta os meus passos em direção ao caminho do meio


* Do sânscrito: gesto (mudra) propiciatório da meditação (dhyana).

segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Integrar uma dieta saudável e exercício físico regular na rotina diária

Com os anos, mesmo uma pessoa como eu, que nunca se preocupou com dietas  e que durante a gravidez se limitou a deixar de comer açúcar (o que foi muito fácil porque eu até nem sou apreciadora de doces...), sabe em que deve consistir uma dieta boa para uma pessoa saudável.

Fibras e açúcar: legumes - o que se quiser; fruta - 5 peças /dia; hidratos de carbono - com moderação; proteínas - em quantidade suficiente para cada tipo de pessoa. O total de calorias ingeridas ronda as 1200, no mínimo, mas devem ser aferidas aqui, por exemplo, consoante a idade e a massa corporal de cada um.


Sabemos todos também que é necessário um bom pequeno almoço, a principal refeição do dia, um almoço completo e um jantar leve. Há um dito popular que reza assim: pequeno almoço de rei, almoço de príncipe, jantar de pobre. Estas três refeições devem ser intercaladas com um porção de um alimento saudável (fruta, iogurte, gelatina, frutos secos, pão ou bolacha integrais...) a meio da manhã, a meio da tarde e, para os mais noctívagos, uma pequena ceia.


No meu caso, aboli praticamente a carne e é muito raro comer peixe, porque cada vez menos apetece comer estes alimentos, porque sei que deles não necessito verdadeiramente, mas também por conhecer os efeitos da respetiva produção industrializada: o imenso sofrimento que provoca nos animais, e a enorme poluição do meio ambiente. Tal não quer dizer que, se me apetecer muito, não coma carne, como os frangos criados ao ar livre, ou peixe, mas é cada vez mais raro. De certa forma, substituí a carne e o peixe por ovos e lacticínios, leguminosas, azeitonas... A arte de comer bem reside sobretudo na confeção de comida simples com alimentos frescos (keep it simple, keep it fresh) e saborosa, de preferência sem recurso a alimentos processados que estão por toda a parte: dos famosos caldos Knorr (já leram os ingredientes de que são feitos, mesmo os de legumes?), aos cereais de pequeno almoço, aos congelados prontos a fritar ou a ir ao forno, passando por todo o tipo de molhos...


Em relação ao exercício físico, acho que cada um deve escolher aquele que mais lhe agradar. Correr, andar de bicicleta, nadar, integrar uma turma de ginásio, o que for, sozinho ou acompanhado. Para mim, é o yoga desde há muitos anos e cada vez mais, já que não posso fazer nenhum tipo de exercício de impacto. Tenho muitas saudades de nadar (o exercício físico que que faço desde os 5 anos...) e que representa também o meu sonho de férias, mas tal significa sujeitar-me durante todo o ano a muitos mergulhos numa piscina coletiva cuja água, por melhor que seja, contém sempre componentes agressivos para os olhos, a pele, o cabelo. Ir e vir a pé para o trabalho (30 minutos + 30 minutos) é outro dos meus objetivos que, sinceramente, não sei quando terei forças para começar, já que de carro demoro 10 minutos, no máximo! Em contrapartida, consigo fazer todos os dias 10 minutos de yoga, mal saio da cama e ando cerca de 20 minutos a pé!


Posto isto, e porque nos dizem que instalar um hábito demora cerca de um mês, integrar uma dieta saudável e exercício físico regular no nosso quotidiano é apenas uma questão de nos comprometermos connosco e, muito importante, com outros de quem gostamos para que nos «vigiem» e apoiem, e de nos concentramos nos benefícios dos resultados. Aconselho vivamente o ritmo do passo de caracol.





sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Ser dono do próprio destino... um dia de cada vez

Nestes últimos tempos tenho andado a pensar em como ser dono do próprio destino é bem mais fácil do que parece e do que se diz. Claro que esta afirmação não se pode infelizmente generalizar a toda a humanidade, mas nós, os do mundo desenvolvido, não temos como reclamar da vida que vivemos.

Fazemo-lo porque é muito mais fácil deixarmo-nos ir na vida que nos «calhou», do que pensar no que realmente queremos para nós, procastinando mais ou menos indefinidamente tomadas de decisão... Na verdade, é impossível mudar tudo de uma vez e mesmo até não ter momentos de deixar andar! Sobretudo porque a vida a que muitos de nós nos obrigamos a ter não é fácil. Falo por mim, mas também pela minha amiga Ziula aqui do lado, para dar exemplo concreto! A vigilância tem de ser, se não constante, pelo menos periódica.


Com a minha idade, conheço bem quais os pilares de um vida boa: comer pouco, diversas vezes e bem, fazer regularmente exercício, dormir o número de horas necessárias, a começar bem antes da meia-noite. Estes são três aspetos fundamentais para que o nosso corpo, tantas vezes secundarizado, nos permita fazer o que queremos. O que implica também idas regulares ao médico, um ciclo de massagens uma vez ao ano (ainda que sejam auto-massagens, sim), um bom corte de cabelo (há mais de um ano que não o faço...) e as rotinas de cuidar de nós: um creme hidratante para o corpo e outro para a cara, um batom, um lápis e uma máscara, um perfume!


Depois há a questão d
o nosso guarda-roupa. Independentemente do estilo de cada um de nós e da necessidade de um consumo consciente, de que eu não abdico, quando temos muito trabalho e uma vida familiar complicada, é tão mais fácil vestir sempre o mesmo uniforme, sem qualquer graça, nem nenhum cuidado especial. Afinal, a elegância é uma atitude física e psicológica e quem prescinde de tempo para investir em si próprio... 



acaba por se transformar ou num sapo, ao contrário da história...
ou... numa esfregona! Sim numa esfregona mesmo! Dói, não dói?

Pois foi assim mesmo que eu me encontrei comigo própria em junho, quando o meu filho começou a melhorar. Fiquei de tal modo assombrada com a minha imagem no espelho, que logo a desviei para o destralhe da casa que estava evidentemente mais ou menos como eu: organizada à primeira vista, mas na realidade pouco cuidada.

Perante esta descoberta iniciei um dieta mais saudável e voltei a fazer yoga duas vezes por semana, que talvez talvez passem a três em setembro-outubro, e comprei, enfim, a minha máquina de costura Singer!

Por tudo isto, o destralhe da casa continua, agora a um ritmo mais lento, mas com persistência, e o meu trabalho profissional abrandou para uma cadência mais humana: um dia de cada vez!


quarta-feira, 12 de agosto de 2015

O espírito das minhas férias de 2016


Fonte: http://www.incidentalcomics.com/2015/06/reflection.html

Obrigada pela inspiração, Grant, um dos meus apoios aqui do lado! 

Férias: um mistério a resolver

Uma vez mais este ano não terei férias. Férias verdadeiras, dessas que são planeadas com alegria e encantamento, para conhecer o mundo, para desligarmos do quotidiano e recarregarmos energias.

Na verdade, depois de adulta nunca tive esse tipo de férias. Bom, uma semana, dez dias, com amigas... pelo menos duas ou três vezes: Guadalajara-Toledo-Madrid, Nova York, Marraquesh... De resto, férias foram para mim sempre organizar várias semanas na praia ou no campo, com crianças ou adolescentes, o pai do meu filho, às vezes um par de amigos. Cozinhar muito para todos, lavar muita loiça, manter as casa mais ou menos em ordem. E, nos intervalos, 
dar uns mergulhos no mar ou no rio, ler sempre que possível.


Nos últimos dois anos, não saí de Lisboa. Fiquei em casa, tentando descansar e organizar-me, o que consegui minimamente. Este ano será igual, com a desvantagem de apenas o poder fazer durante uma semana. Todos os meus dias de férias deste ano, e já bastantes do próximo, foram gastos a acompanhar o meu filho e a tentar simultaneamente recobrar algumas energias sugadas pela doença e pela crise económica e social em que vivemos.


Porque o mais grave problema que hoje vivemos no meu país é não apenas o desemprego brutal associado à grande perda do poder de compra, mas também, sobretudo, a indefinição das políticas sociais, económicas, culturais. Esta indefinição assenta na inexistência de visão política de médio-longo prazo sobre o futuro de Portugal e, por conseguinte, na ausência de metas, de objetivos, de metodologias de trabalho, de incapacidade de planeamento. De um imenso desperdício dos recursos humanos existentes. Não é por acaso que somos um dos povos mais deprimidos da Europa, com mais altas taxas de consumo de benzodiazepinas, de ansiolíticos, de antidepressivos.


Não estou a lamentar-me. Antes da crise eu também não sabia ter férias e é verdade que é possível fazer férias com pouco dinheiro. APRENDER A TER FÉRIAS é umas minhas mais importantes tarefas para 2016. Como o é reconstruir um quotidiano compensador e harmonioso. No meu caso, tenho de aprender a autocentrar-me, a a ser egoísta e depois fluir nesse estado de espírito. Por agora estou apenas focada numa alimentação mais saudável e no yoga. Para a semana, espero terminar o destralhe da casa a que já dei inicio, com o reforço de inspiração da jovem Marie Kondo.


As férias-férias ficam para o ano. Entretanto espero conseguir treinar num ou noutro fim de semana prolongado. Será que estou a pedir de mais ao meu futuro?





sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Blue moon e liberdade

A propósito da letra da canção Blue moon, fiquei a pensar no significado de o impossível (once in a bleu moon) acontecer associado às relações de amor, as minhas no caso...

E o que gostaria de esclarecer aqui é que há muito que sinto que essa fase da minha vida já passou. Na verdade, estou profundamente convicta não que considere impossível voltar a viver uma relação amorosa, mas antes que as probabilidades de tal acontecer são quase nulas. E isto porque, com os anos, fui-me tornando tão exigente e tão livre que sei que não encontrarei ninguém que me consiga encantar. Conheço muita gente e, quanto mais observo as pessoas da minha idade, sejam as casadas sejam as solteiras, e as relações que vivem ou que estabelecem, mais me convenço que isso não é para mim...Tenho alguma pena, mas na realidade o quotidiano dessas pessoas é construído numa base de aparências, muitas vezes de mentiras, no melhor dos casos de companheirismo. E depois, com a idade, as pessoas começam a ceder em relação aos princípios e aos valores e tornam-se egocêntricas, autocentradas.


Por isso acredito que ninguém me conseguiria seduzir ao ponto de partilhar o meu quotidiano, a minha opção de vida, os meus princípios, os meus projetos, as minhas refeições, a minha cama... E o melhor de tudo é que isso não me entristece. Pelo contrário, sinto uma alegria imensa por poder fruir a minha liberdade.


Quero contudo afirmar que nada me faz mais feliz do que estar e conhecer casais que vivem relações de muitos anos, felizes e harmoniosas, como os meus queridos tios Henrique e Zinha ou a Lud e o Leo...


Henrique e Zinha, Lud e Leo.

Sou também uma grande defensora do amor, da amizade, da afeição, da solidariedade, da compaixão, da partilha... De todas as manifestações de atenção para com os outros e de todas as variantes do cuidar dos outros. Atualmente, segundo muitos especialistas (Cf. Marc Bekoff, A vida emocional dos animais) é assumido que a nossa espécie evoluiu graças a todas as formas de cooperação, de solidariedade e de amor que desenvolveu, e não, como se generalizou depois de Darwin, graças à competição (solitária) pelo poder, à lei do mais forte... 



Viver as tantas e tão diversas formas de amar os outros.

Nesse sentido, cuidar de mim (e do meu filho) tornou-se a prioridade das prioridades, tanto mais que me encontro exausta, como nunca antes em toda a minha vida. Compreendi agora (mais vale tarde do que nunca...) que tenho de me colocar a mim própria em primeiro plano (voltei a fazer yoga!) e, desde que interiorizei esta atitude, nunca me senti tão bem, tão disponível e tão livre perante a vida.



«Livres como livros»


sexta-feira, 31 de julho de 2015

Noite de blue moon

Esta noite o nosso céu oferece-nos uma bleu moon, um fenómeno astrológico relativamente raro que assinala uma segunda lua cheia num mesmo mês, em julho, este ano.

O significado e a história do fenómeno da lua azul são conhecidos e explicados em quase todos os meios de informação, mas penso que, para a maioria das pessoas da minha geração, a memória que mais inconscientemente lhe atribuímos é a da canção blue moon cujo final feliz nos confirma que o impossível (once in a bleu moon) acontece: 


Blue moon, you saw me standing alone

Without a dream in my heart
Without a love of my own

Blue moon, you knew just what i was there for

You heard me saying a prayer for
Someone i really could care for

And then there suddenly appeared before me

The only one my arms will ever hold
I heard somebody whisper, "please adore me"
And when i looked, the moon had turned to gold

Blue moon, now i'm no longer alone

Without a dream in my heart
Without a love of my own


Das múltiplas covers e versões desta canção, registadas de 1934 até hoje, a minha preferida continua a ser esta de Dean Martin.





Feliz noite de blue moon!

terça-feira, 28 de julho de 2015

Uma nova vida?

É verdade, sim. O meu filho começou a melhorar há um mês. Muito lentamente, com horas de dúvida e de desânimo, muitos medos e alguns sustos, choro e alegria. Tanto caminho ainda por andar...

Mas vivemos agora sob uma estrela que é uma esperança e uma fé: uma pequena mudança de medicação produziu resultados visíveis e inequívocos. Por isso vamos agora por aqui, reajustando a medicação, não permitindo (eu) que a descrença e tristeza se instalem, enquanto aguardamos uma consulta superespecializada, que apenas há muito pouco tempo existe em Portugal. Mudámos a nossa dieta alimentar que já não inclui praticamente carne e começámos ambos a fazer exercício.


O principal problema é que eu estou física e psicologicamente exausta. Porque, nestes meses, quase morri por dentro. Nem sei mesmo se uma parte de mim não morreu de facto para sempre. Queria muito acreditar que foi a pior parte de mim...


Trabalhei imenso ao longo de todo o inverno e de toda a primavera, e sempre permanente stress, dado o estado do Pedro e o volume de trabalho que tive de assumir. 


Passei, dou-me agora conta, todos os meus momentos de descanso, sem sair de casa, enrolada numa poltrona a tricotar: dois coletes e uma camisola. Nenhum deles ficou pronto. A camisola, refi-la duas vezes, com agulhas de tamanhos diferentes, e das duas vezes a desmanchei. Está agora em novelos num cesto, com os coletes, ambos por terminar, à espera do regresso do frio do inverno e da minha vontade de acabá-los de vez. Costurei também muito, tudo à mão, porque não me decidi ainda a comprar uma máquina de costura. E, tirando pequenos arranjos, os grandes projetos, como o meu primeiro vestido de malha de lã, também ficaram inacabados... começava um, depois continuava outro, depois tentava acabar um terceiro.


Muitas atividades manuais, todos o sabemos, induzem-nos num continuum mental que nos permite ausentarmo-nos parcialmente do mundo exterior e interior, o que nos permite fluir num limbo, no sentido metafórico que a religião católica lhe atribui: «um lugar fora dos limites do céu, onde se vive de forma esquecida e sem a visão plena da eternidade e privado da visão beatificada de Deus».


Com as melhoras ainda tão recentes do meu filho, comecei a olhar em volta. Para a minha casa, primeiro. Fui a uma livraria expressamente para comprar o livro de que tinha ouvido falar sobre o método konmari, da jovem japonesa Marie Kondo, traduzido para português com o título Arrume a sua casa, arrume a sua vida.





A proposta konmari é uma atualização, ou antes, uma versão moderna da prática japonesa de organização do espaço em que vivemos e consequentemente da nossa vida, descrita por Dominique Loreau em A arte da simplicidade de que eu já aqui falei. 

O que Marie Kondo nos diz de novo é que o critério para nos desfazermos do que está a mais na nossa vida é o facto de não nos trazer alegria (joy). E devemos senti-lo. Propõe-nos também uma forma de dobragem de roupas e tecidos e uma organização na vertical e não na horizontal. Por último, alerta-nos para que desfazermo-nos de toda a tralha que nos traz infelicidade, nos faz descobrir aquilo de que gostamos efetivamente e que é o que deve orientar a nossa vida.


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Com este espírito, iniciei  um destralhe da minha casa, mais radical do que os anteriores, e que evidentemente se encontra muito longe do fim. Vou muito devagar, mas com determinação e rigor. 

Num destes dias próximos, começo então a olhar para mim. A sério. Numas fotografias que me enviaram na semana passada, mal me reconheci, tal a imagem de abatimento que denotavam. Como se me tivesse tornado numa transparência inexpressiva de mim própria. Estou a pensar inscrever-me no ginásio.


sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

Não-vida

Percebi esta semana que em 2014 apenas escrevi aqui 12 posts e não consigo mais fingir que isso nada significa. Sei que foi a vida, ou antes, a doença e a morte que me têm impedido de o fazer... Depois de um período de stress em que me tive de tratar dos problemas da L5, L4 e L3, a vontade de aqui escrever foi-se esvaindo. Com a vontade de viver!

Depois de mais de 12 anos a acompanhar a depressão do meu filho, umas vezes mais forte, outras mais fraca, acabei por aceitar a anormalidade de viver com um jovem muitíssimo doente. Agora, contudo, o sofrimento em que ele vive e a lucidez com que encara o quotidiano e o futuro não admitem mais faz de conta, nem distrações. A morte passou a viver na nossa casa e é impossível não a encarar de frente.


Tento cumprir a minha parte do dia-a-dia no trabalho, e manter uma postura de combate e de recusa em baixar os braços, mas por dentro vivo em estado de hibernação e de sonambulismo no meio de um deserto. Sinto uma grande indiferença por todos e por tudo à minha volta. Faço de conta que estou viva, mas não há nada que me dê ânimo. Não perdi ainda a esperança, mas estou muito perto disso.