sábado, 10 de novembro de 2012

Dia 41: Silêncios e sorrisos

A crise em que Portugal mergulhou tem vindo a afetar-nos de formas distintas e não propriamente evidentes. Mesmo para aqueles que não se podem integrar no grupo dos grandes flagelados pela crise, sinto que se vive num ambiente de irritabilidade e de suscetibilidade latentes, bem como de incredulidade e de injustiça que com facilidade explodem e disparam em todas as direções! E tudo isto se veio juntar a muito de melancolia e de interiorização da fatalidade que, dizem, nos carateriza enquanto povo!  

Assim, parece-me, agora mais do que nunca, necessária a reorganização da   vida com base em valores da ordem do ser e não do ter. Para nos ajudar a viver melhor e a lutar por um incremento da qualidade de vida: quando se passou a lidar com um um corte salarial crescente, ajuda muito encarar esta situação como o desafio certo na hora certa... O desafio de aprendermos a viver uma vida consciente e deliberadamente minimalista.

Todos sabemos que não fácil e duvido muito que declará-lo abertamente ajude: teremos de enfrentar muita incompreensão, às vezes críticas negativas e até alguma chacota, o que me parece desnecessário num período difícil de mudança interior. Daí que o silêncio me pareça a atitude mais certa. Um silêncio com sorrisos.

Num destes dias perguntei a um colega meu, que admiro pela constante atitude de serenidade e de afabilidade que transmite, como conseguia ele mantê-la em permanência. Respondeu-me, com um sorriso, que na verdade era (também) ... uma defesa. Perguntei-lhe «como de defesa»? Explicou-me então que sempre tinha sido uma pessoa bem consigo própria e com a vida. Contudo, ultimamente os filhos recriminavam-no por chegar a casa abatido e triste: queriam de volta o pai de sempre! E ele não conseguia. Lembrei-me que fuma imenso e disseram-me depois que tinha passado há algum tempo atrás por uma depressão. 

Compreendi melhor como sorrir pode ser uma defesa. Associado a um silêncio atento e, se possível, a uma atitude de escuta em relação aos outros, pode funcionar como uma proteção! Esta aprendizagem vai ser-me muito útil porque sou uma pessoa muito ligada à vida à minha volta. Sou conversadora e opinativa: entusiasmo-me e facilmnere desenvolvo os projectos em que acredito e indigno-me veementemente com o que creio estar errado! E se, profissionalmente, a minha capacidade de conceber e desenvolver projetos é, em princípio, apreciada, não posso dizer o mesmo da minha indignação declarada: quem disse que as verdades são para se declarem? O que me torna vulnerável, num período em que estou exausta e em que o meu filho está numa fase difícil de uma recuperação muito lenta!

Assim, exercer o silêncio e praticar o sorriso passam de agora em diante a constituir, para mim, um projeto de vida, bem difícil diga-se de passagem, mas que sinto que só me fará bem levar por diante. Procurarei consolidá-lo diariamente, sabendo que a reflexão e a meditação quotidianas ajudam muitíssimo. O minimalismo é, muito mais do que «um ano sem compras», uma nova maneira de estar na vida.  A (vi)ver.

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