Uma jovem de cerca de trinta anos, elegante e bonita, comentava — de frente para as prateleiras dos iogurtes —, entre a surpresa e a angústia, como tinha sido possível que ela e o marido tivessem chegado àquela situação: se tinham trabalhado tanto e se tinham ganho tanto dinheiro, como é que estavam agora cheios de dívidas? E como é que ele, o marido, se recusava a deixar de andar de carro, se isso implicava uma despesa mensal considerável... Como é que ele não via o que lhes estava a suceder?
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Contexto. |
Na altura tive vontade de falar com ela, de lhe explicar o que se passava e de como ela poderia resolver o problema em que vida dela se enredara. Gostaria de lhe ter podido dizer que não é assim tão difícil, e muito menos impossível, modificar os nossos hábitos de consumo. Que viver bem não é consumir, e ainda pior se é acima das nossas posses. Que, pelo contrário, é extremamente compensador sermos donos e senhores das nossas próprias vidas e que, para tal, basta organizarmo-nos e planearmos o futuro a curto-médio prazo. Que o consumo consciente nos tornamos mais vivos e nos transforma em pessoas melhores e mais sábias. Que aumenta a nossa qualidade de vida!
Entre a zona dos laticínios e a dos condimentos alimentares, perdi-a de vista. Reencontrei-a depois da caixa registadora. Saiu à minha frente com um pequeno saco de plástico na mão, enquanto um pobre de pedir, a quem eu dera um euro à entrada, me queria ajudar a carregar os meus enormes sacos de compras.
Fiquei a pensar nos dois: a jovem elegante cheia de dívidas e o senhor idoso que vive de pedir. Chove lá fora e chove no meu coração!