quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Mudanças graduais e mudanças radicais

Hoje, um amigo dizia-me que gostaria muito de fazer uma mudança radical de vida, mas não conseguia ver como. Também não sabia bem que mudança poderia ser essa, mas acima de tudo, tendo um emprego precário, não imaginava como, na atual conjuntura, poderia arriscar ainda mais... 

Quase todos nós temos pelo menos uma vez na vida e, em geral, por volta dos 40-50 anos esta vontade de mudança: somos ainda suficientemente jovens para o fazer e sabemos já que não somos eternos, pelo que, se queremos mudar a/de vida, não podemos adiar a mudança por muito tempo! Em Portugal como na maioria dos países europeus, conhecêmo-la como a crise da meia-idade. Os franceses utilizam a expressão démon du midi (o demónio do meio da vida) que em geral designa tumultuosas alterações de vida, paixões tardias entre pessoas com grande diferença de idade uma, e uma ou duas famílias destroçadas por violentas crises emocionais.

Contudo, o mais conhecido termo midlife crisis, firmado pela primeira vez por Carl Jung, é hoje considerado um processo natural e parte integrante da maturidade; e, se muitas envolve uma depressão mais ou menos grave, é também fonte de crescimento interior que origina uma mudança para uma vida qualitativamente melhor.

No entanto, uma coisa é a vontade de mudar a vida, outra é mudá-la de facto. Por isso, quando nos propomos realizar mudanças radicais, temos de as planear devidamente o que implica também garantir uma retaguarda segura, até porque todo e qualquer plano bem concebido prevê sempre um plano B.  O problema é que este desejo de mudança radical é desde logo tão difícil e intimidante que a tendência é projetarmo-lo de imediato para o mundo dos sonhos impossíveis. Por todas as razões, a começar porque temos de ter em conta aqueles que dependem de nós, como os filhos ou os mais velhos. 

E, apesar disso, acredito cada vez mais que, se quisermos mesmo realizar uma mudança radical na nossa vida, conseguiremos levá-la a cabo. A prova está nos projetos do tipo «Um ano sem compras» que constituem uma forma de o fazer, gradualmente e sem grande alvoroço. E, desde que levados a sério, como o faz Ziula Sbroglio, juíza do trabalho brasileira, que o relata no seu blogue Hora de mudar não são por isso nem menos exigentes, nem menos profícuos. São apenas menos drásticos e mais invisíveis.

Por outro lado, a vida encarrega-se muitas vezes de nos oferecer opções alternativas. Tenho outro amigo que, em janeiro, aos 56 anos, ficou no desemprego. Deprimido e sem saber bem o que fazer, deixou Lisboa, a cidade onde vivera nos últimos 30 anos e foi para a casa que era da mãe *, uma casa solarenga, numa quinta, situada numa aldeia do norte de Portugal.

Apesar de serem nove (9!) irmãos, a casa 
grande estava desabitada e muito degradada. Contudo, como um dos nove irmãos tinha algum dinheiro, combinaram que o meu amigo (que vive com metade do ordenado que antes detinha e que não chega ao dobro do salário mínimo) se encarregaria da recuperação da casa. O que ele está a fazer desde então e, disse-me, mais feliz do que nunca antes na sua vida

Combinaram também que a casa seria sempre o refúgio de todos os irmãos e sobrinhos e o lugar de celebração de momentos felizes. Presentemente o novo projeto do meu amigo é ou conseguir recuperar os anexos da quinta para pequenas habitações de turismo rural e viver disso, para o que precisa evidentemente de um investimento que não é nada fácil de conseguir; ou, em alternativa, continuar a viver na casa grande e viver do cultivo do terra. E, mesmo sem acreditar em Deus, disse-me que reza todos os dias para que isso lhe aconteça, porque não se imagina já a voltar ao trabalho de toda uma vida, das 9h00 às 18h00, o qual teoricamente e antes desta reviravolta era aquele que o realizava. 

Aqui vos ofereço pois esta história em fotografias 
A casa materna vista ao longe.

Portão de entrada.
Gelo no pátio de entrada.

Entrada principal.
Pormenor exterior.
Paisagem envolvente.
A porta grande de entrada.
A cozinha, o coração da casa.
A lareira, o coração da cozinha.
A zona de jantar.
A cave
ou, como se diz no norte, a loja.

O próprio, também autor das fotografias.
Caos interior.

Caos exterior 1.
Caos exterior 2.
Trabalhos de dia...
e de noite...
Janelas originais.
Portadas interiores.
Reparação das janelas 1.
Reparação das janelas 2.
Reparação das janelas 3.
Canalização.
A meio caminho!
Travejamento 1.
Travejamento 2.
Renovar, recuperar, readaptar.
Recompor e reutilizar.
Entre o velho e o novo.
A casa a renascer.
A sala de jantar da velha casa nova.
A nova casa velha.
Modernizar a casa de banho 1
Modernizar a casa de banho 2.
Pormenor dos tectos.
Perspectiva longitudinal.
Escada em caracol para a cave, como nova.
Tradição e modernidade 1.
 Tradição e modernidade 2.
Porta de entrada como nova.
Trabalhos exteriores.
A equipa de trabalhadores.

Fim dos trabalhos!
À espera da família...
Do que eu mais gosto nesta história é não apenas a manutenção da casa de família como um lugar de refúgio e de celebrações familiares, para além de eventual fonte de rendimento para algum dos irmãos que tenha essa vontade ou necessidade, mas sim o exemplo que nos dá de como um desaire da vida pode revelar-se o início uma vida melhor.

* Tanto literal como simbolicamente que reconfortante é podermos contar com uma casa da mãe, mesmo degradada, onde voltar quando não sabemos o que fazer de nós e da vida...


2 comentários:

  1. Maria, obrigada pela referência.

    Penso que mais importante que o plano B é sermos tolerantes com nossos deslizes, pois eles acontecem mesmo que tenhamos a maior das boas intenções do mundo!

    É claro que traçar um caminho é fundamental! Entretanto, precisamos ter em mente que, como humanos, podemos falhar uma outra vez, mas que as falhas se tornam cada vez menores quando persistimos no objetivo.

    Beijos

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    1. Percebo bem o que queres dizer, sobretudo (penso) no contexto da forma como fomos educadas. Confesso que sou um pouco, demasiado, perfecionista. Como dizias, temos de aprender a sermos mais boazinhas connosco próprias, mas a verdade é que (con)vivo muito mal com a autodesculpa, os deslizes, o desleixo, o fazer tudo a «despachar».

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