terça-feira, 18 de setembro de 2012

«Um ano sem compras»

É verdade! No dia 1 de Outubro inicio-me numa vida mas comprometida a e assumidamente minimalista, como agora se diz, ou como se dizia antes, mais no sentido do ser e menos no do ter, mais frugal e mais simples. Para dizer a verdade, esta opção não é nova para mim, mas nunca, antes de outros terem avançado e testemunhado este projeto, a coloquei desta forma lúcida e empenhada. 


Mapa do bem-estar mundial

Desde jovem que tenho muito presentes as assimetrias do mundo em que vivemos. Para além do que aprendi com o Graal português antes de 1974, o facto de ter dado aulas de português em Angola, nos anos 80, numa pequena vila do planalto central alterou de vez a minha visão do mundo! A experiência de viver numa comunidade pobre e subnutrida, para mim que pertencia a uma famíla da grande burguesia lisboeta, foi tão violenta que quase morri: como quase deixei de conseguir comer, contraí uma broncopneumonia dupla, num local onde não havia antibióticos e, mais tarde, quase sucumbi a uma violenta crise de paludismo. Sobrevivi graças ao meu estatuto de professora cooperante e a uma congregação religiosa italiana que vivia na mesma vila do que eu.

Contudo, se esta visão constante da coexistência de dois mundos, o do Norte e o do Sul, um em contraponto do outro, sempre me acompanhou ao longo da vida, tal não me impediu de embarcar também em muitas, demasiadas, aventuras consumistas. Como a maioria de nós, por pura ilusão de um consumo ávido de felicidade instantânea. Todas as desculpas validavam os breves momentos de alienação e de encantamento que o consumo proporciona: porque estava deprimida, porque me sentia feliz, porque era um programa de grupo, porque estava só...



O que descobri nestes projetos «Um ano sem compras» é que podem mudar radicalmente a nossa vida. Porque, se se iniciam com uma recusa ao consumo supérfluo, acabam por nos conduzir a outros níveis de exigência, como o «destralhar» da nossa casa e da nossa vida e a procura do que nos é essencial. Assim, facilmente passamos de uma melhor organização do quotidiano para uma vida melhor, com mais qualidade de_vida: dormir bem, comer melhor, fruir o convívio com aqueles que amamos, valorizar o melhor do que possuímos, conhecer a alegria da dádiva, cuidar bem do nosso corpo, recuperar o sentido de humor e exercê-lo...

Foi assim que cheguei ao dia 18 do mês 0: decidi dar-me um mês zero para me preparar melhor e para definir concretamente o que posso e não posso fazer. Na realidade o meu «Ano sem compras» já começou e tenho-me sentido muito feliz com esta opção.

Não tenho comprado nada de supérfluo: um livro de filosofia importante para este meu projeto, 3 canetas fluorescentes para a organização dos meus papéis, 3 latinhas de tinta para tingir tecido  e assim reciclar 3 peças do meu guarda roupa, um lanche de trabalho e dois de «compensação» por uma tristeza que me invadiu o coração até às lágrimas, do tipo Calimero:«coitadinha de mim, por que razão me acontece isto, logo a mim...».


 



3 marcadores e 3 latas de tinta para tecidos

 
  3 lanches supérfluos

Mantendo ainda as minhas rotinas diárias, tenho conseguido «destralhar» 3 objetos por dia (ou mais) conjuntamente com 15 minutos diários de organização, métodos estes que se adaptam bem a esta fase que estou a viver. Tenho também repensado as minhas práticas diárias: da televisão apenas tenho visto um ou outro telejornal, tenho tentado levantar-me mais cedo e mantenho uma dieta alimentar bastante saudável e caseira.

A (vi)ver! 

1 comentário:

  1. Maria, uma delícia ler você! E tenhas certeza que o projeto te levará a locais jamais sonhados! Beijos

    p.s. se puder tirar a verificação de palavras para os comentários, como a Marina já me sugeriu, seria ótimo! rs

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