A viagem de Lisboa a Cádis só se pode fazer por estrada, na medida em que, por mais estranho que pareça, não há ligações ferroviárias entre Portugal e Espanha, com exceção do Lusitânia Expresso que faz a viagem Lisboa-Madrid e Madrid-Lisboa de noite, toda a noite...
A viagem de avião obriga a ir a Madrid e aí a fazer uma ligação a Sevilha, ou seja, a voltar para trás. São o dobro dos quilómetros, e mais tempo devido à espera que as ligações aéreas obrigam. É também mais cara.
A viagem por estrada é evidentemente cansativa. São cerca de 600 quilómetros ou a conduzir ou de autocarro. Neste último caso, são quase 9H00 porque o autocarro faz todo o sul do Algarve e o termo da viagem é em Sevilha. O que significa que para chegar a Cádis ainda é necessário ou apanhar um outro autocarro ou um comboio noutra ponta da cidade, e este último trajeto pode durar entre 1H00 e 1H30.
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Trajeto Lisboa-Cádis por estrada (Google maps). |
Assim decidi, desta vez, experimentar o sistema de boleias partilhadas mais conhecido na Europa, o Blablacar. A plataforma é amigável e mostra-nos as diferentes propostas de viagens para o trajeto que pretendemos: dia e hora, nome e idade do condutor, com a respetiva avaliação e comentários efetuados por outros passageiros em anteriores viagens. Podemos pagar online ou diretamente ao próprio condutor, e o preço é praticamente idêntico ao da viagem em autocarro que não é propriamente barata: 80 € ida e volta. A reserva considera-se efetiva a partir do momento em que recebemos um código alfanumérico por sms ou email.
Tendo apenas como experiência esta viagem de ida e volta, na qual acabei até por coincidir com o mesmo condutor, devo dizer que, para mim, valeu a pena.
Em primeiro lugar, neste caso concreto, a viagem de carro é bem mais curta (menos de 6 horas) do que a de autocarro, mesmo tendo ficado em El Puerto de Santa Maria, a meia hora de comboio de Cádis-cidade e só isso é importante. Fizemos uma única paragem para sair e tomar alguma coisa, mas foi suficiente. Depois, conheci pessoas muito diferentes, na maioria jovens, mas não só, já que na viagem Cádis-Lisboa, para além de mim, um dos passageiros era um senhor australiano seguramente mais velho do que eu.
A diversidade dos passageiros com quem se partilha a viagem é indiscutivelmente uma das mais-valias a ter em conta na opção Blablacar. Comigo viajaram dois espanhóis, um francês, uma romena, uma italiana, uma dinamarquesa, uma croata, um australiano e dois brasileiros. O próprio nome desta empresa é elucidativo: os companheiros de viagem conversam muito entre si, quase sempre em inglês, mas também nesta viagem em espanhol. O nosso condutor confessou-me mesmo que, se falava agora muito melhor inglês, o devia ao Blablacar!
Cada passageiro é convidado a descrever-se na plataforma, assinalando entre outros itens: se gosta de viajar com música, se não se importa de viajar com cães (o que se for o caso pode implicar um lugar extra pela viagem) e se é uma pessoa de um bla, de dois blas ou de três blas. Claro que no mono-volume em que regressei, não era fácil conversar com todos, mas com os que estão ao nosso lado é o mais natural. O que não quer dizer que seja obrigatório fazê-lo, também é possível dormir, o que eu aliás fiz.
Cabe aqui também uma palavra para José M., o nosso condutor espanhol 5 estrelas. Para além de uma excelente condução, como é normal em alguém que gosta de conduzir e que tem milhares de quilómetros feitos na Europa, em África e no Brasil, é também um jovem muito gentil. Chegados ao destino final, levou-me até à estação de comboios e ajudou-me mesmo a comprar o bilhete para Cádis, sem que eu lhe tivesse pedido nada.
Por último mas não em último, não podemos esquecer a redução da pegada ecológica que viajar em conjunto significa. Tudo isto tomado em consideração, o Blablacar parece-me uma win-win option, como dizem os americanos, a repetir. Será provavelmente também este facto que explica a atual expansão do Blablacar no mundo:
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Expansão do Blablacar a amarelo. |
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