quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

May you all bless me, dear mothers and sisters before and behind me...

Há dois meses escrevi aqui que, neste meu percurso por uma vida mais simples, desejava uma vida frugal e exigia, para mim própria, uma vida melhor. Mas, na realidade, de que estou eu concretamente a falar?

Sei que estou a preparar uma mudança radical de vida para os próximos anos (dois anos, cinco, oito, não sei...), e que para tal tenho de caminhar devagar, mas com firmeza e muita paciência. O que, só por si, implica no meu caso uma grande aprendizagem: não apenas porque tenho alguma tendência para acelerar, mas também porque todos nós sabemos que a paciência é uma virtude... chinesa, ou seja, praticada nos antípodas, pelo menos... de mim!

Neste ano de 2014, tenho em primeiro lugar de me dedicar ao meu filho e também ao pai dele. Tanto um como outro estão doentes, cada um deles em grave depressão, e precisam de construir vidas boas e independentes de mim: um assumindo progressivamente uma vida adulta e o outro construindo um tempo de reforma recompensador e feliz. E a primeira fase da mudança ocorrerá já neste mês de janeiro.

O que significa que terei de investir emocionalmente na melhor forma de conduzir este processo difícil e doloroso para os três e só poderei fazê-lo cuidando mais de mim. Ou seja, tenho de dormir bem, de comer bem, de praticar mais horas de meditação, isto no mínimo, de modo a conseguir aquietar o meu coração e tranquilizar-me interiormente.

A fé e a força de que necessito para levar a cabo esta primeira fase e todas as outras que se lhe seguirão repousam em mim própria, enquanto mulher, conscientemente herdeira de gerações e gerações de mulheres, as «cuidadoras» da espécie humana

A noção de «cuidados»* é uma noção que só agora começa a ser estudada e avaliada até mesmo em termos económicos e sociais. Como presentemente é definida, abrange as intervenções que têm por objetivo manter, atender, reequilibrar ou cuidar da família e da comunidade. Na prática, são os trabalhos invisíveis e as tarefas obscuras repetidas todos os dias da vida, na sua maioria despensados por todas as mulheres em toda a parte do mundo que têm desde sempre garantido a sobrevivência das sociedades humanas e da própria vida: os trabalhos de criação (crianças, animais, vegetais...), de manutenção da capacidade produtiva de um terreno, de regeneração de um território devastado, de construção e conservação de abrigos (casas, vestuário...) de transmissão de saberes sobre a saúde ou sobre alimentos….

Estes trabalhos de cuidados constituem esteios de vida e são chaves para a sustentabilidade.… Realizados sem horários, em permanente e incessante luta contra a corrente de todo o tipo de carências: desordem, sujidade, falta de alimentos, abandono afetivo e efetivo... desde tempos imemoriais.

Australopithecus afarensis 3.85 - 2.95 milhões de anos a. C.
Neandertais, 50 000 - 30 000 a.C.
Mulher sapiens sapiens 160 000- 200 000 anos a.C.
Espanha, séc. XVI (Velásquez).
Mulher esquimó (1933).
OndjoyetuSumbe, Angola.
Fujian, China.
Yaopu, Shaxni, China.
Cidade de Guatemala.
Peshawar, Paquistão.
Muriaé, Brasil.
Portugal.
É pois à memória coletiva da força interior necessária à realização dos trabalhos de cuidados realizados ancestralmente por mulheres de todas as latitudes, minhas mães e minhas irmãs, que irei pedir a benção e a ajuda de que agora necessito.



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Yaro Herrero, Fernando Cembranos e Marta Pascual (coord.) – Cambiar las gafas para mirar el mundo: una nueva cultura de la sostenibilidad. Madrid: Libro sen Acción, 2011, p. 181.201

4 comentários:

  1. Abençoada seja, minha Irmã! Que as Deusas de todas as partes da Terra que em si são uma, te abençoe, guarde, fortaleça, traga sempre sabedoria, para que desempenhe esse papel tão importante, feminino e necessário.

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  2. Muito obrigada pelas suas palavras, querida Andreia. E que bom que esta minha «prece» não é entendida como uma atitude meramente «feminista». Eu acredito mesmo que as mulheres têm até hoje cuidado do mundo, não apenas porque basta olhar em volta, mas porque há estudos que o comprovam. Não é por acaso que as ONGs, nas zonas do mundo onde apenas se sobrevive, entregam comida e medicamentos às mulheres. Sabem que elas cuidarão sempre primeiro dos mais velhos e das crianças e, só depois, dos adultos, homens e mulheres. Um grande abraço fraternal.

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  3. Maria, desejo muita sorte nessa nova fase da sua vida. Também preciso muito exercitar a paciencia em mim, visto que sou muito ansiosa e quero resolver as coisas de uma vez. Que Deus abençoe seus passos e de a você a força necessaria para ajudar quem precisa.

    Abraço!

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    1. Por isso, para as pessoas como nós é ainda mais importante praticar o «desaceleramento»: No meu caso, é o yoga e a meditação que me dão forças. Ficar em silêncio e sozinha também ajudam. Obrigada pela sua vinda aqui e pela força. Abraço grande,

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