Tenho, assim, aproveitado para ler muito sobre as atitudes alternativas ao estado deste «nosso» mundo: das cidades em transição ou transition towns, às comunidades alternativas, do consumo consciente à opção por uma vida minimalista, simples e frugal, mais autêntica e eticamente exigente.
Penso que, em geral, a adesão mais impulsiva ao minimalismo tem origem numa tristeza tão profundamente enterrada dentro de nós próprios que dela não damos conta. Só nos apercebemos, e mal, de uma permanente insatisfação com a vida que vivemos, num espanto que cresce ao longo dos anos em que se vai tornando num gigantesco e evidente SIM em resposta à pergunta: «então viver é só isto»?
Contudo, a razão mais próxima é a vontade de redução de um consumo que nos sufoca porque nos rouba energia (dinheiro, tempo, vitalidade), na medida em é da sua natureza provocar-nos uma insatisfação permanente. Daí a vontade de controlar o nosso espaço vital, mais concretamente a nossa casa, o exemplo concreto da entropia que, ao invés de nos compensar e nos fortalecer, está sempre demasiado «entulhada» e desordenada, e a exigir cuidados e trabalhos, sempre repetidos e sempre sem fim. Todos os dias da vida.
A redução do consumo inconsciente por questões de endividamento, por vezes muitíssimo dolorosas, é outra das razões de adesão ao minimalismo, e pode ser ainda mais aliciante quando encontramos uma comunidade que nos assegura e comprova, por A + B, que «ter» não é «ser».
É neste contexto que «Um ano sem compras» se torna num desafio, num jogo até, tanto mais que, em princípio, nos traz só vantagens. O mesmo se passa com o destralhamento e a organização da casa: «três objetos por dia», meia hora de pomodoro, também outro desafio e outro jogo que eu aliás vivi com gosto. Sendo que ambos são por vezes também um pretexto para renovar o guarda roupa e para redecorar a casa! O que em si não deixa de ser importante. É de nós e do nosso espaço vital que aqui se trata, e não podemos gostar de nós da mesma maneira aos vinte, aos trinta, aos quarenta, aos cinquenta anos!
Todavia, para mim, o grande salto qualitativo vem depois destes projetos, ou seja, ultrapassados estes desafios e experiências, um ano depois, o que mudou efetivamente em nós e nas nossas vidas? O que queremos viver em termos de consumo, rotina, dádiva, participação na comunidade, serenidade, alegria de viver, sabedoria?
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A partir de uma pesquisa no Google imagens sem possibilidade de identificação exacta. |
Entre a adesão a uma vida frugal e a exigência de uma vida melhor, é aqui que estou agora.