Devo afirmar aqui que nunca fui uma pessoa superconsumista e que nunca contraí qualquer tipo de dívida por essa razão. Mas é verdade que, ao longo da vida, comprei muitas coisas de que depois me arrependi: ou porque não as utilizei, ou porque depois não gostei. Contudo, obrigar-me a pensar em consumir conscientemente e nas razões por que tenho ou não vontade de consumir, tem-me oferecido a possibilidade de me conhecer melhor e de conhecer melhor o mundo à minha volta.
Em primeiro lugar, ao longo deste ano, raramente senti vontade de comprar fosse o que fosse. Na verdade, não deixei nunca de sentir uma espécie de enjôo só de pensar em entrar numa loja, até mesmo no supermercado onde tenho de ir frequentemente....
Não sei bem a razão, mas passei a cozinhar com mais gosto e a comer melhor. É verdade que não consegui acabar com os pequenos lanches em pastelarias, sobretudo por razões de trabalho, e comi algumas vezes em restaurantes em ocasiões comemorativas. Mas tenho sempre em casa diferentes porções de comida feita: pelo menos duas refeições de carne, e várias de arroz, pasta, couscous, legumes, feijão, grão, carne, ovos, lacticínios, muita fruta... E sinto-me feliz por me ter habituado muito depressa à minha pequena lancheira que uso todos os dias: com uma rápida volta pelo frigorífico, componho o almoço e o lanche que levo para o trabalho e esta opção diária faz-me sempre sentir bem.
Cozinhar, uma opção de cada vez mais portugueses. |
Top 2. |
Dois pares de calças pretas de meia estação. |
Botins |
A razão foi sobretudo profissional, já que estive em cerca de 15 representações oficiais onde também tive de falar para a televisão. Senti-me contudo interiormente dividida ao fazer estas compras: gostei dos conjuntos, mas os botins foram o exemplo típico de uma compra errada: são lindos (namorei-os durante mais de um ano), portugueses e estavam em saldo! Mas são desconfortáveis (embora ainda não tenha perdido a esperança de que, com o uso, o problema se resolva...), uma regra que há muitos anos eu não quebrava.
Constatei assim que no destralhamento feito no meu guarda-roupa acabara por guardar peças de que gosto mas que estavam na realidade bastante usadas. A maioria, sobretudo a de Verão, já não estava sequer em estado de a poder doar. Cortei algumas partes das peças para retalhos dos trabalhos de costura que gosto de fazer, e outros para panos de limpeza.
Nas quase três semanas em que estive em Espanha, em trabalho, também não resisti às compras que todos os anos faço com um grupo de amigas, numa espécie de ritual de coqueteria: prendas entre 1 € e 1,5 € cada, nos montones do mercadillo municipal: três blusas de Verão, uma túnica e umas jeans (há cerca de cinco anos que não tinha um par). São peças que os feirantes compram ao quilo à porta das fábricas, ou em segunda mão.
1 € |
1 € |
1,5 € |
1,5 € |
Por estes pecadilhos disse às minhas amigas que teria de prolongar o meu ano sem compras. Primeiro pensei fazê-lo até ao Natal, mas depois acabei por concluir que vou fazê-lo daqui em diante, pelo menos por enquanto sem prazo marcado. Afinal, a minha atitude quase espontânea é já de grande alerta perante todo o tipo de consumo desnecessário!
Em contrapartida, dei um enorme passo em direção a uma vida mais minimalista: deixei de ir ao cabeleireiro! Quer dizer, a não ser para um corte de cabelo, que agora uso bastante mais curto, passei a tratar do cabelo em casa: descobri uma tinta que colora apenas os cabelos brancos e vai saindo com as lavagens. Para mim, funciona como umas luzes para os meus cabelos brancos que são relativamente poucos. Escolhi um louro escuro e a mistura com a minha cor dá-me um ar mais natural e mais leve. E, para secar, basta-me sacudir o cabelo, o que sempre me dá uma sensação meio infantil de alegria de viver!
Dediquei-me também mais à minha casa: organizando-a de modo mais funcional e destralhando-a do que não faz falta. Nestas andanças, decidi aplicar as minhas poupanças dos dois últimos anos numa reforma da casa: pintura geral, tratamento de partes do soalho que estavam a precisar de reparação, nova instalação eléctrica e ar condicionado inverter. Esta última opção fi-la sobretudo pelo meu filho que sofre bastante com as oscilações térmicas (vivo num último andar) que ao longo do ano em Lisboa são significativas. Depois de estudar vários sistemas, acabei por concluir que fiz um bom investimento, já que os dois aparelhos por que optei são de classe AA e economizam energia, tanto no Verão como no Inverno.
Devo esclarecer que estas poupanças já estavam destinadas a serem aplicadas em melhorias na casa, mas eu não tinha decidido ainda era se as faria este ano ou no próximo. Acabei por me decidir por agora-já quando tomei outra opção: não ir de férias de Verão, como nos outros anos. Assim, este ano vamos apenas duas semanas para a casa de praia que uma tia avó do meu filho nos empresta. Fica muito perto de Lisboa pelo que, sempre que for necessário, venho a casa.
Para os que ainda estão indecisos em embarcar na aventura de um ano sem compras é bom lembrar que esta aposta também nos dá é uma maior sensação de segurança e de controle da nossa vida, de mistura com uma sensação de grande liberdade. Apesar dos pesares, este ano tem sido para mim muitíssimo compensador!
Maria, adorei seu relato do ano sem compras e penso que após um ano sem consumir o natural, pelo menos para a maioria, seja adotar um consumo mais consciente que importa em não consumir mais tantas e tantas bobagens!
ResponderEliminarParabéns!!
Beijos
p.s. você está na minha lista de blogs, sim!!!
Querida Ziula:
ResponderEliminarObrigada por estares aí «comigo». Tenho aprendido muito contigo que vais bem «à frente»!
Bjs,
Maria,
ResponderEliminarThank you for the update on your year without shopping. I really enjoyed reading about your experiences, and love what you have discovered and shared with us.
Cutting consumption is a wonderful learning experience, but best of all, it is liberating!
Gregg and Linda