terça-feira, 31 de dezembro de 2013

2013 em balanço

Neste ano que passou, aprofundei resoluções de vida muito importantes, a principal das quais foi apostar na minha especialização profissional. Neste processo percebi contudo que agora tenho de o fazer como parte integrante de uma vida boa, no sentido ético do termo, que quero viver todos os dias, e da qual este blogue constitui, simultaneamente, um compromisso, uma busca de sentido e um registo.

Percebi pois que posso e devo unir os princípios por que procuro orientar a minha vida pessoal às questões profissionais que defendo, e se prendem com a promoção da cidadania, da sustentabilidade e da luta por uma vida melhor. Na realidade, posso fazer profissionalmente aquilo de que gosto mesmo e que também é o que faço melhor. O que não quer dizer que tal seja fácil.

Assim, em relação aos meus projetos profissionais, tive e tenho de continuar a redefini-los tendo em conta as minhas limitações pessoais e as do meu país aqui e agora. Na prática, tal significou um reajustamento da minha produtividade e um repensar no que poderá ser concretamente «feito». Unir as duas componentes da minha vida em termos de atitude e de envolvimento foi o que de melhor consegui começar a viver no meu quotidiano.

Em relação ao ano sem compras, foi-me tão aliciante quanto fácil vivê-lo epor agora, ficou para sempre 💚 !

Ou seja, nada tenho a alterar em relação ao que necessito e tenho sido exigente no que respeita a alimentação, saúde e higiene física e espiritual. Procuro cozinhar uma comida cada vez mais biológica, equilibrada e saborosa, e levo sempre  almoço e lanche para o trabalho. Tenho apenas de ter em atenção os meus exames médicos de rotina, e de encontrar um lugar para voltar a fazer yoga, porque o meu professor deixou de dar aulas e eu acabei por ficar um pouco perdida...

No que respeita ao consumo pessoal, do que eventualmente precisar vou guiar-me como em tudo o mais pela relação qualidade preço. Seja como for, não preciso de grande coisa este ano, para além de me ser cada vez mais difícil suportar idas às compras. Para a casa, como tenho praticamente tudo organizado, segue-se apenas a manutenção da reorganização da casa que terá de incluir um terceiro grande processo de destralhamento, agora mais radical ainda, nomeadamente no que respeita aos livros que são ainda demasiados. 

O que me parece presentemente fundamental é o afinamento e a consolidação de rotinas quotidianas e regulares: das que me fazem bem, e das que me libertem e simplifiquem cada vez mais o que tem de ser feito. Gostaria de dizer que estou confiante e que tudo irá correr bem, mas como a vida me tem ensinado que há situações difíceis que se nos impõem sem qualquer tipo de transigência, fico-me pela fé. E acho que fico bem.

🌟

sábado, 28 de dezembro de 2013

2013: Natal sem «o coração nas mãos»!

Neste ano, o Natal cá em casa foi uma noite como todas as outras. Um jantar para três (o meu filho o pai dele e eu), cada um no seu sítio e ao seu ritmo, com o seu... tabuleiro. Comemos bacalhau cozido com batatas e couves (porque, enfim, este menu gastronómico do dia 24 de dezembro é praticamente sagrado) acompanhado por um bom vinho. Para além do tradicional bolo rei, agora destronado pelo bolo rainha (que apenas leva  frutos secos: nozes, amêndoas, pinhões...) e se vende em toda a parte, fiz uma salada de frutas amarela de que gosto muito (amarela porque é feita apenas com frutos amarelos). Não enfeitei a casa e o Presépio está «montado» todo o ano. 

Ainda tive de lidar com a história das prendas porque não encontrei forma de me escusar (do ponto de vista do coração) ao lanche familiar do dia de Natal, em casa de uma das minhas irmãs. Assim, este ano foi a vez dos sabonetes Ach Brito, dos melhores do mundo e portugueses, claro! Uma das vantagens da opção sabonetes foi a de se ter traduzido num menor número de compras, já que, para os casais, a oferta de um único sabonete tinha uma intenção amorosa incluída. Para os meus sobrinhos, o de sempre: uma pequena nota de euro enrolada numa fita rosa e verde, e livros ilustrados para as pequeninas. Decidi que os embrulhos seriam feitos apenas com as fitas recicladas que tinha em casa. Afinal, já o fazia com as notas, os sabonetes vêm embrulhados em papel colorido e as capas dos livros para crianças são sempre lindíssimas. Porquê gastar então mais papel? 

Assim, o jantar de Natal foi para mim praticamente indiferente. Não foi bom, nem mau, não teve nem risos, nem choros, muito embora o meu filho não estivesse bem, o que somente a medicina e ele podem resolver. Eu apenas posso ajudar, o que é muitíssimo e pouco ao mesmo tempo.

O lanche acabou, como sempre, por ter momentos felizes. Primeiro porque só muito raramente nos reunimos em família: grandes e pequenos, ex-maridos e ex-mulheres, filhos de diferentes casamentos... Mas também porque cada um de nós só vai se quer mesmo ir e só fica o tempo que quiser, às vezes menos de meia hora! Todos se servem dos salgados e dos doces que estão postos na mesa da sala e das bebidas que lhes apetecer. Nem precisamos de nos sentar.

Claro que agora o Natal já não é o que era, mas sobretudo o Natal pode e deve ser sempre que um homem quiser, duas frases feitas que na minha vida de agora adquiriram todo o sentido. Não foi nem stressante, nem doloroso, nem emocionalmente desgastante, nem feliz. Consegui proteger o meu coração ao mesmo tempo que consegui oferecer bem-estar aos que dependem de mim. Quando o meu filho melhorar, reúno todos os que amo e faço um Natal verdadeiramente feliz!



quarta-feira, 25 de dezembro de 2013

Casa minimalista e «decoração na fé»

Como já afirmei aqui antes, no que respeita à construção de uma casa minimalista não posso deixar de me comover com os Dez mandamentos de decoração com emoção da Thalita do blogue Casa de colorir. Pode até ser uma contradição da minha parte, mas já há muito que aprendi que para as resolver tenho de amar as minhas contradições. Destes mandamentos, um dos que já há muito pratico é o da decoração na fé. Na fé no melhor de nós, evidentemente!

Assim, depois das obras cá em casa e do respetivo destralhamento geral (o segundo nesta casa!), voltei a harmonizar os meus santos.


Avé, Maria, cheia de graça...
(Nossa Senhora da Conceição, a que tem as duas mãos postas)

Namo tassa bhagavato arahato samma sambuddhassa.
(Honour to the blessed'one, the exalted one, the fully enlightened one)
(Budha) 

Salve, rainha, mãe misericordiosa, vida, doçura e esperança nossa, salve! 
(Nossa Senhora com o menino nos braços)

Om namah shiva...
(Shiva)

O meu Presépio.


Todas estas figuras e imagens me são queridas e me fazem sentir bem e em casa. Acredito que Nossa Senhora seja a apropriação cristã de Gaia, Géia, Gea ou , a deusa Terra, a Mãe Terra. Ou antes ainda, nos primórdios da nossa humanidade: aquele(a) que tudo dá: BHAG (o mais antigo nome indoeuropeu para deus), o ser primordial gerador de vida. Tal como me interrogo se Nataraja shiva (o rei dos dançarinos) não seria originalmente uma mulher... Já o gesto simbólico de mãos postas de todos os cristãos tem a mesma origem do muito mais antigo prônam mudra (do sânscrito) 🙏 .

Por isso, não sendo crente, honro os meus santos enquanto memória da espiritualidade humana milenar e símbolos de determinação e de, a que move montanhas, e nos ajuda a lutar pelo mais difícil, pelo impossível até.

Em nome do Espírito Santo, aquele que inspirará o reinado mais elevado do desenvolvimento humano.

 Amén...

sábado, 21 de dezembro de 2013

Solstício de inverno: as fogueiras de Natal

O inverno de 2013 (o tempo mais frio e mais sombrio do ano do hemisfério norte) terá início hoje, 21 de Dezembro às 17h11, dia do solstício de inverno.

Imagem retirada daqui.


A palavra solstício deriva da palavra latina solstitium (sol + sistere, que significa estacionário): o sol parado nessa posição na órbita celeste. Este dia assinala a noite mais longa do ano neste lado do planeta e significa também, o que muitas vezes esquecemos, que todas as seguintes serão sempre um pouco mais curtas. Até 21 de março de 2014, às 16h07, data do equinócio da Primavera, em que de novo o dia e a noite têm a mesma duração, do latim equi, como em equilíbrio.

A história da humanidade regista a celebração desta data em distantes e diversas culturas desde tempos imemoriais: na noite mais longa, como saber se a noite não aumentaria mais e mais e mais, instalando-se para sempre? 

Por isso, no meio desta noite que nos países católicos, como Portugal, se transferiu para a véspera de Natal, os seres humanos se reuniam e se reúnem ainda para convocar o sol através do fogo, do canto e dança. Para vencer o terror de uma perpétua escuridão noturna e deste modo propiciar um pouco mais de sol em cada dia.

Em Portugal, esta tradição ancestral e pagã convive bem com o nascimento do Menino Jesus e a Missa do Galo. Assim, de norte a sul do país, todos os anos se acendem milhares de grandes fogueiras de Natal, também conhecido como o Madeiro de Natal, quase todas alimentadas até ao Dia de Reis, contribuindo em muito para a alegria e para a coesão da comunidade.
 
Preparação, aqui em Barrancos, feita uns dias antes.
Fogueira de Natal em Monforte.
Para quem quiser saber um pouco mais desta tradição que, depois de quase extinta em diversos locais, tem vindo a ser vigorosamente recuperada pelos próprios habitantes de cada localidade, este breve vídeo de um 1:18 mostra o calor partilhado da fogueira de Natal numa pequena vila do norte de Portugal, Sendim.

domingo, 15 de dezembro de 2013

Surpreendentemente, como só nós, humanos: o jardim da minha infância

Antes de ser sinónimo de uma zona da cidade ou o nome de uma estação de Metro, o Campo Grande, em Lisboa, era o Jardim do Campo Grande, um lugar de passeio e de lazer dos lisboetas durante cerca de dois séculos, desde o seu desenho como «Passeio Público», no reinado de D. Maria I. Contudo, nos últimos trinta anos, a utilização do Jardim tornou-se muito condicionada, não apenas pelas vias rápidas do tráfego rodoviário do acesso Norte a Lisboa que o rodeiam como um muro, mas também pela ausência de investimento camarário na respectiva manutenção: uma tirinha de verde, envelhecido e abandonado, em plena da selva de asfalto e de trânsito.

Via http://pelosjardinsdelisboa.blogspot.com/2008/08/parquejardim-do-campo-grande-cg_10.html


Antes, muitas e diferentes gerações de lisboetas fruíram deste espaço de formas diversas: no século XIX, assistindo a corridas de cavalos e indo às várias feiras que ali tinham lugar, depois passeando, merendando e convivendo. E, já na segunda metade do século XX, aprendendo a nadar nas Piscinas do Campo Grande, alugando barcos a remos num dos seus lagos artificiais, lanchando nas duas explanadas ali existentes. Essa foi uma parte da minha infância e as tardes que as minhas irmãs e eu lá passámos, verdadeiros momentos de alegria pura.

Já era a tal tirinha de 1200 metros de comprimento por 200 metros de largura, mas, superado o perigo de atravessar a «via rápida», era um jardim extraordinário, com árvores gigantescas, bancos de madeira, relvados frescos e arruamentos sinuosos, onde as crianças corriam e brincavam, os jovens andavam de bicicleta, os mais velhos liam o jornal, os namorados caminhavam de mãos dadas...


Via http://mulher.sapo.pt/actualidade/em-foco/

Reaberto ao público há pouco tempo, depois de cerca de dois anos de obras, o jardim parece ter renascido. Dou comigo mesma a pensar que, mesmo com o tráfego que o cerca como uma barreira asustadora, tão perigosa que várias pessoas aí morreram atropleladas, esta «amostra urbana» de «natureza domesticada» continua a atrair-nos e a oferecer-nos bem-estar e alegria de viver. Emanando uma vitalidade que nos abençoa e que muitas vezes menosprezamos, de tal modo nos formatámos já à vida da cidade grande.

Espaço de convívio transgeracional e por isso mesmo precioso, o Jardim do Campo Grande foi celebrado no Fado do Campo Grande (letra de Ary dos Santos, música de Vitorino de Almeida), Neste fado que é uma declaração de amor a Lisboa, reconheço-me sempre com alguma emoção nos versos iniciais:  «A minha velha casa,/ por mais que eu sofra e ande,/ é sempre um golpe de asa,/ varrendo um Campo Grande...».

domingo, 8 de dezembro de 2013

Nelson Mandela: so long Madiba...

A primeira vez que ouvi falar em Nelson Mandela tinha 23 anos. Estava em Moçambique, então um jovem país recém-independente, a dar aulas de português na Escola Comercial de Maputo. Nesses quase dois anos de trabalho aprendi a verdadeira História de África: da pré-história da humanidade, aos primeiros contactos com árabes e europeus, dos grandes reinos africanos à escravatura, da Conferência de Berlim à partilha de África, ao colonialismo e ao apartheid.. 

A partir de então, Nelson Mandela tornou-se numa das minhas referências de vida. Lembro-me muito bem do dia em que foi libertado e da comoção internacional que as imagens televisivas desse evento provocaram um pouco por todo o mundo e no meu coração.

Por isso, hoje, de tudo o que de extraordinário Mandela realizou - da luta contra o apartheid à luta pela reconciliação do seu povo - queria deixar aqui duas das mais comoventes imagens deste homem tão austero e exigente, antes do mais consigo próprio.



O seu amor sem limites e a sua fé nas crianças e nos mais novos, documentados pela Fundação Nelson Mandela onde o podemos ouvir cantar a sua versão de Twinkle, twinkle litle star.

Com Mandisa Dlanga, cantora da banda de J.C., Savuka, em 1999.
E a cantar e a dançar, em 1999, num concerto público, a famosa canção Asimbonanga, «uma música e uma dança que me puseram em paz com o mundo e em paz comigo próprio», como então afirma (ao minuto 4 do vídeo acima).

Composta, em 1986 pelo músico sul-africano Johnny Clegg, detentor de um percurso de vida que espelha as contradições da África do Sul, e numa época em que cantá-la significou ser preso por diversas vezes, Asimbonanga tornou-se num símbolo da luta de Nelson Mandela por uma África do Sul livre do racismo.
Asimbonanga, Johnny Clegg (1986)
(Letra em Zulu e em inglês)

Chorus:
Asimbonanga--------------------(we have not seen him)
Asimbonang' umandela thina-----(we have not seen mandela)
Laph'ekhona--------------------(in the place where he is)
Laph'ehleli khona--------------(in the place where he is kept)

Oh the sea is cold and the sky is grey
Look across the island into the bay
We are all islands till comes the day
We cross the burning water

Chorus:
Asimbonanga--------------------(we have not seen him)
Asimbonang' umandela thina-----(we have not seen mandela)
Laph'ekhona--------------------(in the place where he is)
Laph'ehleli khona--------------(in the place where he is kept)

A seagull wings across the sea
Broken silence is what I dream
Who has the words to close the distance
Between you and me

Chorus:
Asimbonanga--------------------(we have not seen him)
Asimbonang' umandela thina-----(we have not seen mandela)
Laph'ekhona--------------------(in the place where he is)
Laph'ehleli khona--------------(in the place where he is kept)

Asimbonang 'umfowethu thina----(we have not seen our brother)
Laph'ekhona--------------------(in the place where he is)
Laph'wafela khona--------------(in the place where he died)
Hey wena-----------------------(hey you!)
Hey wena nawe------------------(hey you and you as well)
Siyofika nini la' siyakhona----(when will we arrive at our des
tination) ]


Dizem que não há ninguém insubstituível, o que não é evidentemente verdade. De entre nós, há uns que são o melhor de nós. E apenas alguns, excecionais. São os que nos iluminam e nos asseguram que o nosso mundo pode ser um mundo melhor. Por isso, é nosso dever lembrá-los e passar o seu testemunho aos mais novos. O que, aliás, Nelson Mandela de tantas e de tão diversas formas defendeu. Como numa das suas citações de que mais gosto:

«Let us remind ourselves that is ordinary people 
- men and women, boys and girls -
 that make the world a special place».

JONATHAN EVANS / Reuters
JONATHAN EVANS / Reuters
JONATHAN EVANS / Reuters
So long, Madiba...



Créditos das duas últimas fotos:
Mandela: Jonathan Evans - Reuters.
Velas: aqui.

domingo, 24 de novembro de 2013

Sobre minimalistas e minimalismo


Ao longo das últimas semanas procurei conhecer um pouco melhor a comunidade de minimalistas que escrevem blogues. A minha pesquisa centrou-se na América do Norte (EUA e Canadá), na Austrália, na Península Ibérica (Portugal e Espanha), para além do Brasil, claro. Descobri e conheci melhor minimalistas muito diferentes...

Sofisticados, como Bea Jonhson...

Foto by Green Generation.
autora do blogue Zero waste home sobre quem também já escrevi aqui:




... radicais, como a opção de vida da família Franco:


Tomé e Hugo,

ina, Tomé e Manu,

relatada por Manu em Notas sobre uma escolha de que também já aqui falei...



... assumidamente citadinos, como Francine Jay do blogue Miss Minimalist




Francine Jay
e habitantes da cidade grande, como os The minimalists ...

Joshua Fields Millburn & Ryan Nicodemus


ou adeptos incondicionais da vida selvagem, como Gregg, uma pessoa aqui do meu lado:

Small footprint, more sustainable living.
Gregg Koep enjoying the wild...

ou uma quase conciliação de ambos, como Sue St. Jean, uma inglesa mestre jardineira (Master Gardener), um curso muito prestigiado no Reino Unido, e agora em Rhode Island, USA, defensora da agricultura urbana, 

Sue
e autora do blogue Less noise, more green, título retirado de uma citação de JRR Tolkien's em The Hobbit:  «... long ago in the quiet of the world, when there was less noise and more green...»

Less Noise, More Green...
 
... grandes viajantes, como os meus queridos Lud e Leo de quem também já falei antes

...aqui, em Halong bay, no Vietname...
... um casal, duas malas, três anos de licença de trabalho.

 ... técnicos superiores altamente qualificados, como a juíza de trabalho, Ziula Sbroglio, que já aqui referi também... 
Ziula, a pessoa que me convenceu a aprofundar o minimalismo...
e autora do blogue Hora de mudar.


 ... jovens estudantes, como o espanhol Gorka...


...autor do blogue homónimo, Gorka Pittarch...


....jovens trabalhadores como a brasileira Bruna, autora do blogue Uma vida mais simples:

Bruna e Marcelo...


e ... mais velhos como Rhonda Hetzel, ex-jornalista técnica australiana, que decidiu reformar-se mais cedo de modo a poder viver uma vida melhor:


Rhonda, autora de um blogue extraordinário,
Down to earth.

Muitos destes minimalistas editaram já com sucesso, versões em livro dos seus blogues e são frequentemente chamados para diversas conferências e debates. Escusado será dizer que aprendi muitíssimo.

Não sei até que ponto o Minimalismo poderá ser considerado um movimento global. Pode não passar de uma moda, mas gostaria de pensar que é uma tendência que veio para ficar.

A Wikipédia em língua inglesa refere genericamente, na entrada Minimalism, os movimentos artísticos homónimos: das artes visuais (design, conceção do espaço, arquitetura), da música e da literatura. Renvia-nos, contudo, no final, para uma conjunto de entradas, na sua maioria sobre conexões e desenvolvimentos artísticos deste movimento, onde surpreendentemente são referidas duas entradas tão díspares como capsule wardrobe e simple living. Relativamente desenvolvida, a entrada simple living é definida como um conjunto de diferentes práticas voluntárias, com uma dimensão política e económica, destinadas a simplificar o estilo de vida de uma pessoa.

Por sua vez, esta entrada que, como as anteriores, carece de creditação, remete-nos, para cerca de outras 30 entradas: (anti) consumismo, car-free movement, frugalidade, independência financeira, slow life, ócio, obsolescência programada, over-comsuption, produção orgânica, slow living, small houses movement, entre outras, como o complexo conceito taoista de (wei) Wu wei (ação sem ação)... Alguns autores defendem também relações entre simple living e os movimentos New age e Gaia.

Toda esta indefinição se explica pelo facto de, na linguagem humana, as palavras nascerem com a vida vivida e, só depois de «instaladas» na consciência coletiva, entrarem para o dicionário, o qual por definição é sempre conservador. Não podemos pois saber ao certo, hoje, o que é o Minimalismo, nem qual a sua dimensão.

É uma opção de vida, sim. Implica uma tomada de atitude consciente e proativa, dado ter de se afirmar contra a corrente dominante. Abrange uma grande diversidade de pessoas, dispersas pelo mundo considerado desenvolvido e não se pode dizer que tenha nem porta-vozes, nem teóricos reconhecidos enquanto tal. Em comum, os minimalistas têm a defesa de um consumo consciente e da preservação de alguns dos valores fundamentais da nossa espécie, nomeadamente o cuidado com o planeta Terra no seu todo: a natureza e os outros seres, sejam eles seres humanos, seres sencientes, seres vivos e mesmo sem vida, como as pedras e a terra.

No interior desta opção de vida encontramos sempre uma recusa inequívoca dos excessos que a sociedade de consumo nos impõe: futilidade, superficialidade, tralha material, física, emocional, psicológica; bem como a recusa do deslumbramento com a gratificação instantânea que ilude o esvaziamento progressivo do que significa estarmos vivos aqui e agora. E acredito que também convoca, mais do que a solidariedade, a fraternidade franciscana entre todos os habitantes da Terra e todos os elementos: irmão Sol, irmã Lua, irmão Vento, irmão Fogo, irmã Água, mãe Terra...

Será que estou a sonhar acordada (Am i daydreaming)?

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Aprofundar uma opção de vida minimalista 2: preparar um salto em frente

Entre cuidar de quem precisa de mim e simultaneamante de mim própria, foi-me necessário inventar um equilíbrio que ainda estou a ensaiar. Como o tempo em que tenho de descansar fisicamente aumentou agora muitíssimo, preencho-o com a leitura, a escrita e a reflexão. Procuro ainda integrar neste tempo um tempo de meditação, uma prática yogui que  permite o descanso mental, racional e emocional. Com o devido treino e persistência, é-nos possível «entrar» numa espécie de «nada» que nos liga diretamente ao nosso eu interior. Não consigo explicá-lo melhor, mas a serenidade que advém desta prática é muitíssimo revigorante. Provavelmente insubstituível.

Tenho, assim, aproveitado para ler muito sobre as atitudes alternativas ao estado deste «nosso» mundo: das cidades em transição ou transition towns, às comunidades alternativas, do consumo consciente à opção por uma vida minimalista, simples e frugal, mais autêntica e eticamente exigente.

Penso que, em geral, a adesão mais impulsiva ao minimalismo tem origem numa tristeza tão profundamente enterrada dentro de nós próprios que dela não damos conta. Só nos apercebemos, e mal, de uma permanente insatisfação com a vida que vivemos, num espanto que cresce ao longo dos anos em que se vai tornando num gigantesco e evidente SIM em resposta à pergunta: «então viver é só isto»?

Contudo, a razão mais próxima é a vontade de redução de um consumo que nos sufoca porque nos rouba energia (dinheiro, tempo, vitalidade), na medida em é da sua natureza provocar-nos uma insatisfação permanente. Daí a vontade de controlar o nosso espaço vital, mais concretamente a nossa casa, o exemplo concreto da entropia que, ao invés de nos compensar e nos fortalecer, está sempre demasiado «entulhada» e desordenada, e a exigir cuidados e trabalhos, sempre repetidos e sempre sem fim. Todos os dias da vida.

A redução do consumo inconsciente por questões de endividamento, por vezes muitíssimo dolorosas, é outra das razões de adesão ao minimalismo, e pode ser ainda mais aliciante quando encontramos uma comunidade que nos assegura e comprova, por A + B, que «ter» não é «ser».

É neste contexto que «Um ano sem compras» se torna num desafio, num jogo até, tanto mais que, em princípio, nos traz só vantagens. O mesmo se passa com o destralhamento e a organização da casa: «três objetos por dia», meia hora de pomodoro, também outro desafio e outro jogo que eu aliás vivi com gosto. Sendo que ambos são por vezes também um pretexto para renovar o guarda roupa e para redecorar a casa! O que em si não deixa de ser importante. É de nós e do nosso espaço vital que aqui se trata, e não podemos gostar de nós da mesma maneira aos vinte, aos trinta, aos quarenta, aos cinquenta anos!

Todavia, para mim, o grande salto qualitativo vem depois destes projetos, ou seja, ultrapassados estes desafios e experiências, um ano depois, o que mudou efetivamente em nós e nas nossas vidas? O que queremos viver em termos de consumo, rotina, dádiva, participação na comunidade, serenidade, alegria de viver, sabedoria?
A partir de uma pesquisa no Google imagens sem possibilidade de identificação exacta.
Penso que este caminho, uma vez conscientemente iniciado, só pode ser depois para sempre. Sobretudo na minha idade, em que uma grande parte deste caminho já o tinha percorrido. Com hesitações, avanços e recuos, idas e vindas, com certeza. Se está tanto, quase tudo, em causa e por fazer nas nossas vidas e nas nossas comunidades...

Entre a adesão a uma vida frugal e a exigência de uma vida melhor, é aqui que estou agora.


quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Aprofundar uma opção de vida minimalista 1: parar!

Uma vez mais, a vida obrigou-me a parar.

Fui durante grande parte da minha vida um pessoa tendencialmente hiperativa,  workaholic, como diriam os americanos, ansiosa, como diriam os psicólogos. Aos poucos, graças a grandes períodos de reflexão, de terapia e de prática de yoga, consegui mudar-me para uma pessoa mais tranquila, mais autocontrolada e mais cool. O que não significa menos sensível, solidária e ativa. Como se diz na prática de yoga, aquietei o meu coração. Ou seja, na maior parte das situações difíceis, sou capaz de ganhar distância face ao stress e à angústia, por exemplo, e de agir calmamente. Mas este é um projeto de toda uma vida, como já antes aqui referi.

Depois das férias de verão, obriguei-me a uma maior disciplina face ao trabalho e à casa. Tendo de trabalhar mais horas por semana, impus-me objetivos e períodos de trabalho semanais mais rigorosos, mas também rotinas de cuidados (da família, da casa...). Vivi mesmo uma hierarquia de sonos-alimentação sem qualquer tipo de transigências, de modo a poder funcionar bem em casa e no trabalho.

Não consegui, todavia, integrar uma «respiração completa», um «espaço» para mim própria, nem mesmo uma rotina na minha prática de yoga. Por isso, quando o meu filho voltou a adoecer em setembro, fui-me progressivamente dando conta de que, do modo como me organizara, era incapaz de levar por diante os meus projetos profissionais e pessoais de curto prazo. No sábado passado fui obrigada a parar. O meu corpo e a minha alma rejeitaram este meu novo ritmo de vida desequilibrado, à beira da exaustão, e adoeci.

Três dias depois, a minha médica «receitou-me» um descanso forçado. Um mês inteiro ou (porque me conhece bem) duas semanas, no mínimo dos mínimos, sob pena de me aumentar a medicação! Faz parte da «receita», um período diário de relaxamento, o controle do sono e a restrição de «cuidados» apenas ao meu filho que, entretanto, não melhorou significativamente e a mim própria.


Sometimes you have to be your only child, your love of your life, your own hero. 
All at the same thime!